AO LONGO DA ESTRADA EM DUPLICAÇÃO

Textos da Autoria de José Rosa Abreu Vale Data terça-feira, 22 de março de 2011 0 comentários


Ontem choveu muito em Fortaleza. Hoje a paisagem permanece nublada ao longo do trajeto que leva a Aracati. Acompanham-me dois professores que devem participar de uma reunião na Faculdade do Vale do Jaguaribe. A estrada se encontra em processo de duplicação. Os professores me interrogam sobre o impacto das obras na vida cotidiana das comunidades ribeirinhas. Proponho-lhes ouvir ao longo da estrada a palavra de algumas pessoas conhecidas.


Uma palavra da gente do César Ribeiro, dono do engenho Cana dá. Ali se fala em transformar, com os recursos da desapropriação, o rústico engenho atual em um parque temático centrado no mel e em seus derivados.

Uma palavra do bom amigo Tarcisio Holanda – herdeiro de renomada família pindoretamense – replantado no sítio Terra Sã, onde, entre frutas e outras tapiocas, prepara suculentos quebra-jejuns.

É difícil encontrar o Pedro Colaço para ouvi-lo sobre a idéia que o levou a montar um restaurante em Beberibe, como fator de integração da carne de avestruz ao paladar cearense. A pergunta a fazer-lhe seria: “Em que pé se encontra o projeto?”.

Em outras paradas, o assunto é mais diretamente a estrada e as vicissitudes da reforma: por quê estes e não outros traçados; quem lucrou e quem perdeu no carteado das desapropriações; atrasos previstos e avanços imprevistos; o tempo necessário para absorver culturalmente as novas referências surgidas na paisagem. Tarcisio Holanda, otimista, considera o lado bom da duplicação: 

“Desde que”, diz ele, “se invista pesado na formação cultural e profissional da moçada desses municípios”.

“Formação da moçada”. Não tem sido outro o sonho da FVJ que se pergunta diariamente sobre as perspectivas do desenvolvimento sustentável da área geopolítica em que está inserida: os municípios da faixa litorânea leste, os municípios ao longo do baixo e médio jaguaribe, sem esquecer cidades do vizinho estado do Rio Grande do Norte. Sua primeira preocupação tem sido dar consistência aos onze cursos já aprovados pelo MEC, todos eles na modalidade presencial. Ao mesmo tempo a faculdade percebe que para atender a “moçada” disseminada ao longo de muitas estradas será indispensável recorrer ao instrumental da educação a distância, modalidade de ensino que está ganhando volume e sentido nos vários pontos do país.

Muito já foi feito para adequar as condições operacionais da faculdade às múltiplas exigências da educação a distância. Um grupo especifico de professores já recebeu capacitação para que, chegado o momento, façam a transição harmoniosa da modalidade presencial à modalidade a distância. A faculdade está planejando também a estrutura necessária em pontos estratégicos do estado para facilitar o acesso dos alunos aos momentos presenciais obrigatórios.

Seminários têm facilitado a compreensão das características didático-pedagógicas da EAD que não a distanciam das melhores características do bom ensino presencial. O curso a distância não é necessariamente melhor ou mais rápido do que o presencial. Mas na EAD algumas conquistas são bastante nítidas: a flexibilidade que permite ao aluno conciliar seus compromissos profissionais e pessoais com as disciplinas em estudo; a organização do tempo que lhe facilita realizar as atividades acadêmicas no ritmo proposto pela instituição e em sintonia com a orientação dos professores e monitores e a autonomia que constitui a meta fundamental de todo processo pedagógico em qualquer modalidade de ensino e aprendizagem.

Enfim, é possível fazer uma analogia entre a estrada litorânea em duplicação e o projeto a distância da faculdade. A primeira visa agilizar as condições do tráfego, conferindo-lhe sentido duplo, segurança, comodidade e ganho de tempo. O segundo busca fazer chegar às pessoas e às comunidades em situação de distanciamento os serviços educacionais de modo organizado e em calendário adequado. Em ambos os casos, ampliam-se o desfazimento dos gargalos, a superação dos bloqueios e sobretudo  a capilaridade da interação humana. Fica mais fácil inclusive melhor entender o conceito de educação.  

Como sugere a faculdade, educar não se restringe à idéia mecanicista de “formar para o trabalho”. Consiste em promover o amadurecimento dos indivíduos em seus laços comunitários tornando-os capazes de intervir em situações práticas da vida, resolver problemas locais, produzir conhecimentos e valorizar os vínculos e as manifestações culturais. Um dos professores observou: “É, o Tarcisio teve razão quando falou em formação cultural e profissional da rapaziada”.

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