tag:blogger.com,1999:blog-73026488882922141862024-02-19T02:26:59.187-08:00Fragmentos de Um DiárioPor José Rosa Abreu ValeJosé Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.comBlogger23125tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-32414484862143092992011-07-25T14:01:00.000-07:002011-07-25T14:01:44.555-07:00O VELHO E A VIDA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.pedroozorio.com.br/amigos/fundo_tapera.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" src="http://www.pedroozorio.com.br/amigos/fundo_tapera.jpg" width="400" /></a></div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">Sol escaldante, carrasco agressivo. Árvores ressequidas, sem serventia de sombra. Viajo com Edgar Linhares – então membro do Conselho de Educação, hoje seu presidente – neste ano de 1992. Ou 1993? Visitamos escolas em alguns municípios da zona noroeste do estado. É um período de seca, e, para ser sincero, não pretendemos apenas levantar dados numéricos de nossa educação. Buscamos também perscrutar as condições concretas de sobrevivência de famílias que mandam, ou não, seus filhos à escola.</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><span id="more-2376"></span></div><div> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">Numa dobra da estrada carroçável, damos com a casa de tijolo, entregue ao fardo dos anos e exposta ao rigor de meses inteiriços sem chuva. Ao redor da casa, nada. Nada de vida vegetal ou animal: um cachorro, uma galinha, um porco sequer. Nem um mamoeiro, um pé de limão, um cróton que seja. O mormaço do sol e o silêncio da vida envolvem a paisagem. Esta é a casa, imaginei. E Edgar deve ter proposto: vamos parar. Batemos palma, e vem à porta o homem idoso. É uma pessoa pacata que sinaliza um gesto acolhedor.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">O homem não está só. Do interior da casa, aparecem a esposa, duas filhas e um neto. As filhas moram com seus companheiros no povoado, distante meia légua. Os maridos estão desempregados. Melhor dizendo, um deles ficou sem trabalho há dois meses, quando findou a recuperação da estrada estadual. O outro, de 22 anos, não tem trabalho fixo, nem a família pode acreditar quando alega que ganha alguns trocados no jogo, em dias de feira. O velho se pergunta como pode viver do jogo alguém que não tem como bancar uma perda. E como pode ganhar, se não tem o que apostar? As mulheres vieram passar o dia com os pais. Os rapazes ficaram no povoado. A mulher mais jovem, de 17 anos, está grávida.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">Na sala da casa, um pote caquético, a propaganda eleitoral de um candidato, dois tamboretes, duas latas grandes, uma caixa de papelão contendo alguma roupa, lençol, rede. Na cozinha, um fogão meio morto, uns raros utensílios. Um pouco de arroz num alguidar, um pedaço de toucinho pendente de um caibro. O cheiro de antiga fartura tornada fome. O vazio da casa ecoa a pergunta tantas vezes repetida ao longo dessa viagem no coração da seca cearense. Como sobreviver e dar continuidade à espécie em circunstância de tamanha aridez?</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">Como suportar, dia após dia, o peso de imaginar, a cada manhã, a comida do almoço, e no almoço, a comida do jantar? Como situar, no tempo urgente do indispensável, o espaço necessário ao sonho, ao lazer, ao afeto? Com que amplidão de abraço acolher a vida quando nascer a criança esperada pela filha mais nova? Como celebrar devidamente a morte, quando morrer o homem idoso ou a sua esposa? É um caminho duvidoso esse caminho da seca no sertão do Ceará.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">A pergunta é dirigida sem maior cerimônia aos familiares. E estes respondem a tudo com honrosa espontaneidade. O pai é aposentado do funrural. Um dos filhos se foi para Brasília, e outro vive em Fortaleza. Os dois têm suas famílias, mesmo assim enviam aos pais esporadicamente algum dinheiro, uma roupa, um remédio. Mas, diz o homem, o funrural é o alicerce, o mais seguro, embora ameaçado mensalmente pela inflação. É pena, comenta, que a patroa não tenha ainda conseguido o seu “aposento”.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">O isolamento não alienou o homem idoso. É relativamente informado do que ocorre no município, no estado, no país. Diz com palavras simples aquilo que os economistas explanam com o aparato útil da estatística. Que em três anos de seca a terra do Ceará se desnuda a olhos vistos. Que a erosão e o assoreamento reduzem o tempo de vida das águas. Que a safra de alimentos nestes dias é, cada ano, menor.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">É um cidadão que consegue, a seu jeito, administrar a solidariedade no quadro de acertos e desacertos dos familiares. Como pequeno produtor rural, encarna as privações de outras famílias. Sente a falta de uma organização que lhes permita resolver a complexa equação da vida coletiva. Acompanha a seu modo as reivindicações dos trabalhadores rurais e as promessas dos homens lá de cima. Mas os homens, de Fortaleza e Brasília, é tudo distante, pensa ele. Não sabem desencadear uma ação de envergadura, consistente e continuada.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">O velho tem uma fórmula matreira de caracterizar a administração pública municipal: “ O novo prefeito mal chegou e já quer desmanchar o que o outro não fez”. Ri da própria tirada. Um riso cético de quem não espera, mas tampouco desespera. Um riso pacato de quem observa o dia reproduzir o dia na ordem abstrata das coisas impostas. Enquanto observa, a força da vida age em suas entranhas. Ele dirige o olhar para o oeste, onde se divisa o contorno entristecido dos contrafortes da Serra Grande.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; text-align: justify;">É de lá, arremata ele, que vem a chuva. Quando vem.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-44820989319046677992011-05-26T14:35:00.000-07:002011-05-26T14:35:08.096-07:00NA RUA E NO CÁRCERE<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRTWrHUrZxOE5mBeqZCT9joPt5SMgVmzwvtzKyFzdPA_y45OEmi8ipZVMQ4PcRrwCQ8nBD6_xq2OQoqNi1ZP_n6i3qzugYjn_DrpjVleMDRzK3_JoOz_w9_QxOr4rLJaXPVSbbEBQ7yh0/s1600/prisao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRTWrHUrZxOE5mBeqZCT9joPt5SMgVmzwvtzKyFzdPA_y45OEmi8ipZVMQ4PcRrwCQ8nBD6_xq2OQoqNi1ZP_n6i3qzugYjn_DrpjVleMDRzK3_JoOz_w9_QxOr4rLJaXPVSbbEBQ7yh0/s400/prisao.jpg" width="400" /></a></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estamos no mês de julho de 1993. De repente, ressurgem, do fundo da consciência nacional, vozes de emoção e revolta. Desta vez, contra a ceifa noturna de crianças, à porta de uma igreja famosa no Rio de Janeiro, a Candelária. <i>Chacina abominável</i>, <i>retorno à barbárie</i> são palavras ditas por aqueles que, em momentos como este, sobem ao palco para falar em nome do sentimento coletivo. Um âncora de televisão, em São Paulo, retira do baú o chavão usado, algum tempo atrás, contra o trucidamento de homens encarcerados no Carandiru, em São Paulo: <i>uma vergonha</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enquanto isso, a mídia continua a servir a dose diária de sequestro, linchamento, guerra de dossiês e velório “político” da imagem de outrem. E a cobrar sangue e algo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mais</i>: leis mais duras, punições mais severas. Enquanto isso, o tempo corre e a roda gira a ranger novos distúrbios, a inflacionar a moeda, a corroer valores éticos e morais, a bulir com as coisas simples da vida.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A verdade é que não há distanciamento entre o átrio da Candelária, e os corredores do Carandiru. No chão ensanguentado de ambos, e em nossa memória, jazem bem mais de cem corpos amontoados em cenas que se imaginou serem as últimas. Mas nunca são as últimas. Sua reprodução é constante, como se os meninos da Candelária fossem simbolicamente os filhos dos adultos do Carandiru.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ou, melhor dizendo, os filhos de todos nós, produtos de nossas muitas reações emocionais e de nossa pouca ação efetiva marcada por começo, meio e fim. Nossas janelas se abrem para o grito da raiva, enquanto nossas portas se fecham ao gesto de acolher e assumir. É o caso de perguntar: por que estavam fechadas as portas da igreja a impedirem a entrada das crianças que dormiam do lado de fora? Por que não se abriram as portas do Carandiru - o que teria, quem sabe, permitido a saída dos presos e evitado o massacre?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O massacre não é apenas o apagar cego da vida. É um ato absurdo e inútil. Dele, nada se aprende. Nenhuma lição se pode tirar do ocorrido no Rio e São Paulo. A não ser a lição de que a roda e o tempo de ontem e de hoje continuam ziguezagueando no rumo incerto de amanhã.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lembro-me de que em 1991, na antevéspera do dia da criança, o UNICEF promovera, em Brasília, uma reunião focada na crescente fragilização humana e social da sociedade brasileira em enfrentar a violência e fazer da qualidade da educação um meio capaz de moldar o caráter das crianças e alimentar, de igualdade e cidadania, o perfil de seus genitores.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">À reunião foram convidados cerca de 20 formadores de opinião (ministros, o procurador geral da República, parlamentares, jornalistas, empresários, sindicalistas...). Tratava-se de envolver pessoas carismáticas na formulação de propostas exeqüíveis. Naquele momento, duas personalidades – cada uma em seu campo específico de atuação – foram destacadas: Dom Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB e o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tasso, pela determinação com que, durante seu mandato, valorizara ações básicas em favor das crianças, desenvolvidas no contexto social de suas comunidades. Dom Luciano, por toda uma vida a testemunhar que “só a mudança radical de mentalidade na sociedade brasileira, em relação à pobreza e à exclusão, levaria à adoção de uma ação política de grande envergadura capaz de encarnar, em termos práticos, a valorização dos excluídos e de inaugurar uma nova etapa de humanidade”.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 19px; line-height: 28px;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%; line-height: 150%;"></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 28px;">Ao sociólogo Herbert de Souza (o Betinho), presente à reunião, coube afirmar que “uma criança em estado de privação envolve problemas graves para pelo menos mais duas pessoas: o pai e a mãe”. É o entrelaçamento desses problemas e sua permanência de geração em geração que perenizam a desigualdade. E, em permanecendo esta última, perduram também a dificuldade e a urgência de enfrentar as condições das crianças soltas na rua e dos adultos presos nos cárceres.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="line-height: 150%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 28px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-size: 19px; line-height: 28px; text-align: justify;"><br />
</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-75489294209344499852011-05-26T14:12:00.000-07:002011-05-26T14:12:53.222-07:00OS DIAS EM QUE A SUÍÇA DESCOBRIU A DESIGUALDADE<div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 27px;"></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8AjaSRz57MIjqoV89n-wPK5quOmlf2qOLhESrjLXWfji4QtncqBr5FC44cU9FeKZ76JQFeHKy_mPd1B5wKA2evTJItT9PGhKOz4v4UZaCEmLuRcdpGDUr53Vnli8a7hFbRS_PNZEa53U/s1600/grafico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8AjaSRz57MIjqoV89n-wPK5quOmlf2qOLhESrjLXWfji4QtncqBr5FC44cU9FeKZ76JQFeHKy_mPd1B5wKA2evTJItT9PGhKOz4v4UZaCEmLuRcdpGDUr53Vnli8a7hFbRS_PNZEa53U/s400/grafico.jpg" width="400" /></a></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi no finalzinho de abril, uns três dias antes do acidente fatal que encerrou a carreira de Ayrton Senna no autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, durante o Grande Prêmio de San Marino em 1º de maio de 1994.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Encontrava-me com familiares na França, convidado que fora para uma temporada de estudo no Instituto Internacional de Planejamento da Educação, vinculado à UNESCO. O feriado prolongado possibilitou o retorno à cidade universitária de Friburgo, na Suíça, onde vivi nos anos 70, para rever alguns conhecidos e encher os olhos com a paisagem das montanhas, a ponte sobre o rio Zähringen, o bairro Shönberg, os relógios, as vacas, o castelo e a fondue de Gruyères.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Membros das famílias Wassmer e Morard logo nos anteciparam a notícia, confirmada por Ramon Sugranyes e outros, de que parte da população se sentia chocada com a descoberta de que em cada grupo de cem trabalhadores de tempo integral, onze estavam ganhando apenas mil francos por mês, equivalentes então a 740 dólares. Essa remuneração, em muitos países, seria um sonho. Mas lá, para os onze por cento em causa, parecia ser a irrupção do fantasma degradante da desigualdade num país com salário médio nacional de quatro mil francos, ou 2960 dólares, em valores do tempo.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A informação constava de recente levantamento sobre a estratificação social do país, ou da diferenciação econômica, política e cultural entre camadas da população. Esta passava, a saber, por exemplo, que o filho de pai com diploma superior tinha 50 vezes mais chance de entrar na universidade do que a filha de um pai que não fora além dos estudos primários. Em Genebra, os esforços empreendidos para ampliar o tempo de escolaridade não tinham conseguido impedir o aumento da repetência e a disparidade de acesso aos estudos de longa duração. O fenômeno atingia, sobretudo, os filhos de operários, estrangeiros ou não. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em tempo de pleno emprego, essa constatação parecia ser um fato novo no país. Muitos prefeririam que tais informações fossem excluídas do debate público. Significativa a este respeito a resposta de um líder empresarial ao pesquisador que lhe submetera projeto de estudo sobre a reação dos trabalhadores em relação às horas de trabalho: “Meu amigo, certas coisas a gente não precisa saber”.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sob esse tipo de reação dormitava certa lógica própria à cultura do país. Os suíços, tidos como discretos, são também bons marqueteiros na construção da própria imagem. Como se precisa do olho da pesquisa para discernir essas coisas, eles tiram proveito da cegueira geral para generalizar mundo afora uma imagem que lhes é favorável. Assim conseguiram conquistar a confiança de variada clientela e realizar excelentes transações em setores onde a discrição e a exatidão constituem a alma do negócio: depósitos bancários, seguros de toda sorte, relógios, aparelhos de precisão e muitos outros artefatos confeccionados à base de pouca matéria prima e elevado índice de trabalho, tecnologia e disciplina.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao longo do tempo, o país viveu períodos de prosperidade caracterizada pelo pleno emprego. As fronteiras se abriram a milhares de trabalhadores mediterrâneos, que têm contribuído para renovar e ampliar a infra-estrutura de estradas, ferrovias, distritos industriais, rede escolar e hospitalar, assim como escavar túneis, construir centros comerciais e conjuntos habitacionais.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um sentimento de auto-suficiência blindava na população a idéia de que o bem-estar coletivo se devia ao próprio esforço e seus frutos eram, por assim dizer, irreversíveis. Não se considerava que a prosperidade nacional se relacionava, em estreita interdependência, ao fluxo de recursos originados de outros países.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um fim de semana em contato com suíços de várias tendências não foi suficiente para perceber até que ponto estava havendo mudança na realidade do país e na convicção das pessoas ou se se tratava de algo meramente conjuntural. Podia-se, porém, constatar que a crise econômica e cultural presentes na Europa ameaçavam os Alpes. O desemprego estava atingindo o país ao índice crítico de 5%. A desigualdade de renda estava crescendo desde a virada de 1980. O desempenho e o lucro das empresas não se estavam traduzindo em novas oportunidades de trabalho, mas em engorda do capital, com inevitável concentração da riqueza. A inflação seguia sua marcha silenciosa, enquanto as taxas hipotecárias, em contraste com a tradição, vinham aumentando. Já começava a se tornar difícil a aquisição da casa própria, em conseqüência do impacto da crise sobre o setor da construção civil.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nas conversas, as pessoas insistiam na idéia de ser preciso preparar-se para enfrentar os novos tempos. Citavam projetos tecnológicos nunca dantes imaginados, mas reconheciam ser preciso proceder a uma leitura cuidadosa das novas circunstâncias internacionais e preocupar-se seriamente com o vírus recém-descoberto da desigualdade e da exclusão, que ameaçava corroer internamente o tecido social e fragilizar a auto-imagem fabricada ao longo da história.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Naquele ano de 1994, enquanto as estatísticas expunham dados que preocupavam parte da opinião pública, o país continuava mantendo suas características tradicionais. Podia-se ouvir as pessoas se dizerem “bom dia” em cada esquina; os trens partiam e chegavam na hora; os compromissos eram cumpridos à risca. As cidades invadiam o campo sem destruir a atmosfera rural. Em alguns pontos, mal se percebiam os limites entre conjuntos habitacionais e uma fazenda, ou entre esta e uma fábrica. Dava para captar o desejo, que me foi familiar quando lá vivi, de que a vida se harmonizasse em verdadeiro equilíbrio ecológico. Foi gratificante reviver a experiência de que ainda era possível ver as vacas pastando à vontade na proximidade dos homens e das máquinas. Até quando?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-44067879519020877642011-04-26T15:28:00.000-07:002011-04-26T16:11:39.148-07:00A FRANÇA ENTRE A DÚVIDA E A ESPERANÇA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJCC7uart6d8FxZnEX3KZ9ECtVqtyov3djtpZnDNdLuYD-ZWZ41Umn29s4i33aa0aL4fZI6TUj0JX_kX77qgcNJ-3KHcBx9WHjYJ9VggbXEi1MS5iDdY-exmT2hWrCYq3TRxPTtIgM-xk/s1600/paris-fran%25C3%25A7a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJCC7uart6d8FxZnEX3KZ9ECtVqtyov3djtpZnDNdLuYD-ZWZ41Umn29s4i33aa0aL4fZI6TUj0JX_kX77qgcNJ-3KHcBx9WHjYJ9VggbXEi1MS5iDdY-exmT2hWrCYq3TRxPTtIgM-xk/s400/paris-fran%25C3%25A7a.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Voltar à França, bom tempo depois, neste mês de abril de 1994, não é coisa que se faça sem estar sujeito a pagar o preço de alguma nostalgia. Que fazer? Ficar sentado à mesa do bistrô, os olhos tendidos para a fachada de Notre-Dame, aquela “a que os anos reuniram séculos numa postura de coisa no lugar?” Permanecer reflexivo diante da árvore mais antiga de Paris, no pátio aconchegante de São Julian, o pobre? Ou retomar a caminhada, diluindo lembranças entre a pirâmide do Louvre renovado e, de novo, a fachada de Notre-Dame em recuperação? Retalhos de versos voltam à memória: “Ar de Paris/ o olhar em Notre-Dame/ Notre-Dame em nosso olhar e a pergunta no ar:/ parar sozinho, por quê/ andar sozinho, por quê/ nesta postura de coisa sem lugar?”<br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Foi mais sensato apelar aos amigos, os bons velhos amigos. Eles atendem pressurosos ao telefone. Nada mudou: o mesmo tom de voz cordial, o mesmo interesse em um reencontro o mais depressa possível. Depois os reencontros. E a constatação de que algo mudou. A marca do tempo: o corpo algo pesado, o branqueamento do cabelo, as rugas não disfarçadas. E a sentença também sem disfarce: ” Hélas, l’ami, c’est la vie”. É a vida...<br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Sim, seria apenas a vida, não fosse a notícia dos que partiram. Em conversa na casa da belga Teresa Clayes, à rua Du-Fer-à-Moulin, quatro nomes são lembrados. Nenhum se foi por mera questão de idade, como se alega às vezes. Todos sucumbiram ao capricho da malvada que ceifa indistintamente no roçado dos vivos. Claude Picard partiu cedo, Henri Poulizac também. Sobre ambos muito haveria, muito haverá a dizer. Aqui falo de Michel, cuja morte me pareceu fora de hora. Homem dos sete instrumentos, era um filósofo, um poeta, um factótum. Possuído de uma consciência, misto de cristã e camusiana, sabia, como ninguém, administrar a alegria e as dúvidas dos amigos, bastando para tanto a companhia de um pedaço de pão, um pouco de queijo, um copo de vinho.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Mas chega de saudade. É preciso voltar às coisas do dia. Uma amiga francesa e seu amigo uruguaio fornecem o mote que resume o estado atual do País: “Mais uma vez, a França se interroga”. Visceralmente partida entre a razão e a dúvida, as realizações coletivas e a introspecção, o espírito de grandeza e a pequenez de atitudes, a cada tremor da realidade, a pátria de Mitterrand e Chirac sente-se insegura quanto ao passado recente e hesita em face do próximo futuro.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Um levante de secundaristas no início do ano fez recuar o governo Balladur e sua “proposta indecente” de um “simulacro de salário” para jovens que se iniciam no trabalho. O evento não teve a conotação das manifestações de maio de 68. Em 1968, havia forte apelo ideológico. Levantaram-se barricadas porque se sonhava com a transformação radical do quadro de vida e da própria vida. As razões que levaram os jovens à rua este ano, sobretudo nas cidades do interior, são de natureza pragmática. A moçada não pensa em mudar a vida, mas de vida. A inserção no sistema, a que aspiram, chama-se prosaicamente “garantia de emprego”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O desemprego preocupa. Cerca de 12% da força de trabalho, ou seja, 3.5 milhões de pessoas, estão desocupadas. Os consumidores evitam comprar, os empresários se negam a investir. O fantasma da recessão ameaça, e já se vêem pessoas de certo nível que fazem biscate, vendendo no metrô “Le Reverbère”, um jornal dos sem-teto e sem-emprego. Ao que se diz, inúmeras maneiras criativas de sobrevivência prosperam país afora. Os economistas falam de crise conjuntural, associada a freios de arrumação no processo de consolidação da Europa. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Nem tudo é claro. E na semi-obscuridade, porque não gritar? Os primeiros a fazê-lo, são mais uma vez, os jovens. Estes ouviram dos pais que a aventura histórica de que foram protagonistas em 68 havia transformado a França. Mas os filhos se perguntam: “que transformação foi essa que não aterrissa no chão do cotidiano sob a forma de emprego e salário”? Os jovens de 68 não sabem o que responder aos filhos em 1994.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Daí que mais uma vez a França se interroga. E curiosamente, nestes dias de inquietação individual e rebusca de saída coletiva, volta a ecoar no país uma voz solitária que, sem jamais ter sumido, andava um tanto abafada. É a voz de Albert Camus, autor de A Peste, o Miro de Sísifo, Calígula, este último representado recentemente no Teatro José de Alencar de Fortaleza. Pois bem. Acaba de ser lançado em Paris – 34 anos depois da morte de Camus, em acidente de carro, aos 4 de janeiro de 1960 – o livro póstumo O Primeiro Homem, cujo manuscrito fora encontrado na pasta junto a seu corpo.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">No livro, Camus foge ao habitual estilo contido, um tanto distanciado da beleza formal, para dar vida e sangue às emoções do cotidiano. Sua intenção era de recuperar a memória do pai, mas a obra termina contando a história da mãe e o filho, dois seres ligados “por um mesmo sangue e todas as diferenças”. O livro, inacabado, está sendo recebido com grande entusiasmo e vendido aos milhares. Não se trata de mera coincidência. Se não me engano, neste momento de perplexidade, há muita gente lembrando que Camus soube como poucos encarnar a dúvida francesa de todos os tempos, e, na dúvida, retomar a questão do engajamento e do recomeço. Ou seja, da esperança.<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><i>Fonte da Imagem: Site Destinos de Viagem </i></span></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-53441880531486692762011-04-18T10:48:00.000-07:002011-04-26T16:12:02.718-07:00PEREGRINAÇÃO DE PÁSCOA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFMnTRnTuMuvcNVd8AK-uZGrtMxOh-NZAQ8dmPQZTzUQwk-UcHBFLoxHwoAuFNqHWO_Ce4__af_Bd85hsdVK0AUzfC2pxaqfs2GvmtZsiS2hW0tue4Li2emT8TvKVdlMKt25aHBlmnukc/s1600/S%25C3%25A3o%252BBento-Subiaco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div><m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-e4BxSdg6dyhrtQZclXn82xV3p_5kEoOSj7t2IzJBPlEiWKcKhQBegx_MzP1zUs2Pu5XTb6BFyIAxpakn5JxUr5aF9PWbRm_bHG93eWa7CbOcAwa8Y0dE8WPAqBtAnli2o4N1-ZuXpCk/s1600/S%25C3%25A3o%252BPedro-Roma.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="269" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-e4BxSdg6dyhrtQZclXn82xV3p_5kEoOSj7t2IzJBPlEiWKcKhQBegx_MzP1zUs2Pu5XTb6BFyIAxpakn5JxUr5aF9PWbRm_bHG93eWa7CbOcAwa8Y0dE8WPAqBtAnli2o4N1-ZuXpCk/s400/S%25C3%25A3o%252BPedro-Roma.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><u>Basílica de São Pedro - Roma</u></td></tr>
</tbody></table><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><br />
<div style="text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;">São Pedro</span></i></div></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;"> – Roma</span></i></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><br />
</div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">São Pedro: o guarda suíço</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">fez continência entrei</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">anjos descendo no tempo</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">sem restrição do espaço</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">e a glória de Bernini</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">sujeita aos truques do sol</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitRwEh8HabH8QXvWlzQkf4ZhvEu86xZc6TlSa6Q1ow2-aPzHAxPEJzHuYilPIf1bHj6wHgZtU1gavzvXmJLRYKHPlGSR9Il9oldao5J_Un9GH1amz0DCvX3zbtDTKLu-3RxjmBeMl-ozo/s1600/S%25C3%25A3o%252BFrancisco-Assis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitRwEh8HabH8QXvWlzQkf4ZhvEu86xZc6TlSa6Q1ow2-aPzHAxPEJzHuYilPIf1bHj6wHgZtU1gavzvXmJLRYKHPlGSR9Il9oldao5J_Un9GH1amz0DCvX3zbtDTKLu-3RxjmBeMl-ozo/s400/S%25C3%25A3o%252BFrancisco-Assis.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><u>Basílica de São Francisco - Assis</u></td></tr>
</tbody></table><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;">São Francisco</span></i></div></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;"> – Assis </span></i></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><br />
</div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">Pôr-do-sol visto da Rocca</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">dita Maggiore em Assis</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">mil anos de minha vida</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">por um momento de novo</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">na igreja do Hino ao Sol</span></div><div style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; text-align: left;"><m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">São Damião simplesinha.</span></div><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFMnTRnTuMuvcNVd8AK-uZGrtMxOh-NZAQ8dmPQZTzUQwk-UcHBFLoxHwoAuFNqHWO_Ce4__af_Bd85hsdVK0AUzfC2pxaqfs2GvmtZsiS2hW0tue4Li2emT8TvKVdlMKt25aHBlmnukc/s1600/S%25C3%25A3o%252BBento-Subiaco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFMnTRnTuMuvcNVd8AK-uZGrtMxOh-NZAQ8dmPQZTzUQwk-UcHBFLoxHwoAuFNqHWO_Ce4__af_Bd85hsdVK0AUzfC2pxaqfs2GvmtZsiS2hW0tue4Li2emT8TvKVdlMKt25aHBlmnukc/s400/S%25C3%25A3o%252BBento-Subiaco.jpg" width="273" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><u>Mosteiro de São Bento - Subiaco</u></td></tr>
</tbody></table><m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent></m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><div style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><div style="text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;"></span></i></div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;">São Bento</span></i></div></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><i><span style="font-size: 14pt;">–</span></i><i><span style="font-size: 14pt;"> Subiaco</span></i></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">Entretanto Subiaco</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">oração paz e labor</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">a roseira no jardim</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">florindo para o louvor</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">da vida por descobrir</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">na capela de São Bento</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">tremia a lâmpada insone</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">do Santíssimo Sacramento</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">tão maior a sua luz</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><span style="font-size: 14pt;">quão menor a luz do dia.</span></div><div style="text-align: left;"><m:smallfrac m:val="off"><m:dispdef><m:lmargin m:val="0"><m:rmargin m:val="0"><m:defjc m:val="centerGroup"></m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Times,"Times New Roman",serif; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;"><br />
<span style="font-size: 14pt;">Minha pouca luz do dia. </span></div></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-577546348268114032011-04-08T07:41:00.000-07:002011-04-26T16:12:32.809-07:00JOÃO - PE. JOÃO<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR6zDbhR5-FXcEtQ4ixcHwMAzGbVPAi_1ly2dhiLoRP8FruIz0rOHvgJ2HFdGSEJBDnTfvUfoJLsUvFVQEIvg2Fn4rTP0mYDUh-2JalRiXjksnBz2L2BI998SQnKANRQL2UXfBjiulXto/s1600/padre-Jo%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="385" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR6zDbhR5-FXcEtQ4ixcHwMAzGbVPAi_1ly2dhiLoRP8FruIz0rOHvgJ2HFdGSEJBDnTfvUfoJLsUvFVQEIvg2Fn4rTP0mYDUh-2JalRiXjksnBz2L2BI998SQnKANRQL2UXfBjiulXto/s400/padre-Jo%25C3%25A3o.jpg" width="400" /></a></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Fim de tarde em Sobral, à margem esquerda do rio Acaraú. O encontro acontece em um restaurante a céu aberto, junto à plácida igrejinha de Nossa Senhora das Dores. Dali é possível divisar a massa líquida do rio deslizando mansamente em direção à noite que se aproxima. Preside a mesa o padre João Batista Frota. Clientes vêm até ele e lhe estendem a mão. Ninguém fica indiferente à sua presença, à sua pessoa. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Chovera forte na região, dias antes. As águas deixaram marca de sua passagem nas duas margens do rio. À esquerda, houve algum desconforto, mas não danos irreparáveis às obras que embelezam o lado nobre da cidade. Os estragos mais graves ocorreram à margem direita, lá onde vive boa parte da população pobre; lá onde, durante as chuvas, se fez presente o padre João com uma palavra de alento, sua mão de apoio e a bênção solidária. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Agora, aqui está ele. Sua figura aparentemente frágil desperta a atenção pelo modo como escuta os outros, pelo cuidado com que pastora os comensais: “<i>água? Um pouco de vinho? Sirva-se mais, você está comendo pouco”</i>. De sua atitude, algo desborda e atrai que não é fácil descrever. Quem é o padre João? Um contemplativo que olha atento o que está perto, na busca de perscrutar o que se encontra além? Um solitário que jamais se esquiva ao encontro de quem quer que avoque a sua presença? Alguém que enxerga o bem, sem enceguecer perante o mal? Um político suave e firme a quem repugna a fria hipocrisia das habituais práticas eleitoreiras? Um ser humano que persegue metas elevadas movido pela luz de uma fé tranqüila, pela força humilde da esperança, pelo sentido da urgência em construir, passo a passo, o bem comum? </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mas quem é o padre João? Será que ele mesmo sabe? Será que não assume essa atitude de suave e paciente escuta na tentativa de apreender, nas perguntas que lhe são dirigidas, os componentes íntimos reveladores de sua personalidade? Jesus de Nazaré, a quem João se sente particularmente ligado, deu exemplo de procedimento algo similar. Pois não seria outro, à primeira vista pelo menos, o sentido de uma conversa de Jesus com seus discípulos, registrada no evangelho de São Mateus e repetida de forma abreviada nos textos de Marcos e Lucas. Retomemos, então, o capítulo 16 de Mateus, lá onde se descreve a confissão de Pedro, texto aqui reproduzido em versão bastante livre.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Ao chegar numa das aldeias de Cesaréia de Felipe, Jesus perguntou aos que o acompanhavam: “e aí, amigos, o que é que o pessoal anda falando sobre o Filho do homem? Quem acham que ele é?” E os discípulos responderam: “Bom, uns dizem que é João Batista, outros falam de Elias; alguém lembrou Jeremias, e outros citaram outros profetas”. E Jesus: “e vocês, o que é que vocês pensam”? Enquanto alguns se perguntavam o que responder, Pedro, sempre impulsivo, partiu ao ataque: “ora, não tem outra não, você é o Filho de Deus vivo”. O diálogo de Jesus com seus discípulos expressa um método de abordagem familiar a Sócrates. Jesus sabe quem é. Mas, àquela altura de sua missão, quer que os discípulos assimilem o mistério com que haverão de lidar vida afora: Jesus, Filho do Homem, Jesus Filho de Deus. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">E o padre João? A impressão que deixa é a de alguém que espera ouvir, das pessoas com que convive, palavras que o ajudem a consolidar o ideal a que se encontra preso desde que se doou ao amigo Jesus de Nazaré. Voltando, pois, às perguntas feitas há pouco, este escriba confessa singelamente não dispor de resposta pronta. E, por essa razão, decidiu sair por aí a perguntar a uns e a outras o que têm a dizer sobre o padre João e o que tem significado para cada um o contato com ele. As pessoas aceitam falar com facilidade. E como falam. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A título de intróito, ouçamos Glória Giovana Sabóia Mont’Alverne Girão, nome à altura da função que exerce em Sobral: a de diretora do Museu Dom José Tupinambá da Frota. Giovana traça o esboço de um retrato do padre João. Diz que ele não nasceu para si, mas para o serviço dos outros. Simples e humilde, é, ao mesmo tempo, dotado de extraordinária força interior, usada em favor dos desventurados, da conversão dos jovens, da propagação do evangelho. Sábio e humano, teve oportunidade de conviver com muitas culturas e assimilar, em experiências e trajetórias pelo mundo afora, sínteses de diferenças e semelhanças susceptíveis de aplicação crítica à realidade nordestina. Nele, a cidadania não é atitude passiva, mas ação permanente em favor de alguém ou de alguma causa de alcance coletivo. Sabe assumir com o povo a execução de tarefas, demonstrando poder de decisão sempre que necessário. Por onde tem passado, sua palavra é ouvida e respeitada, sua liderança jamais contestada. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Outra sobralense de nome comprido, Ada Pimentel Gomes Fernandes Vieira, mãe de família dedicada às lides educacionais no Ceará, seja como professora seja como gestora, lembra que conheceu o padre por intermédio de sua irmã Lísia. Ao encontrá-lo, teve um choque de empatia. Acha que, por ser uma pessoa alvoroçada, sentiu-se vencida pela serenidade do padre. Percebeu que se tratava de alguém simples, não simplório. Ada, apesar de católica, não seguia o padrão habitual da confissão. Mas, em decorrência desse encontro, na primeira oportunidade, mandou-se de Sobral para confessar-se com ele em Massapé, de onde padre João era pároco. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A partir de então passou a refletir sobre seus pecados sociais. Ela não é dessas pessoas que se chegam aos pobres porque é Natal. Embora nunca tenha deixado de ajudá-los, sempre resistiu à idéia de fazer ostentação de suas ajudas. Ocorre que as palavras do padre João avivaram nela a consciência de que fazia pelos pobres menos do que podia, embora não soubesse como fazer mais. Voltou de Massapé com a certeza de que o padre seria para ela não uma estrela, mas um referencial ético: suave, manso, grande, diferente de alguns membros do clero que lhe pareciam distantes, fosforescentes, sem calor humano e espiritual. Padre João, segundo Ada, não é uma pessoa encolhida. Freqüenta tranqüilamente qualquer meio social. Atua nos bastidores, sem alarido. Com a firmeza da rocha e a fluidez da água, tem o dom do mediador e do conciliador. Mediação e conciliação fortes, acreditadas.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Nereu Feix, cidadão gaucho, contemporâneo de João no Colégio Pio Brasileiro de Roma, vive hoje do ofício de tradutor oficial em Düdweiller/Saarbrücken-Alemanha. Numa das vindas ao Brasil, chegou até Sobral e teve a oportunidade de sair com o padre João a visitar bairros que muitos “fingem não ver”, sobretudo depois da inundação do Acaraú. Nereu impressiona-se com as casinhas de barro e o número de pobres subnutridos. Lembra que quanto mais se aproximava das pessoas, mais doíam em sua consciência europeizada os gritos “desesperados e esperançosos” de “padre João, padre João, padre João”. Percorreu Sobral no fusca do padre (placa HVX<span style="color: red;"> </span>6423, ano 1965)<span style="color: red;"> </span>que de Wolkswagen, fica valendo simbolicamente apenas a tradução do alemão: <i>carro do povo</i>. Isso porque todos tratam o fusquinha como se fosse o carro de todos. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Nereu dá um salto no tempo. Para trás. Revive o Domingo de Ramos, imagina que o fusca poderia bem ser a jumenta e o jumentinho da entrada de Jesus em Jerusalém, evoca os vendilhões do templo, rememora a metáfora da figueira amaldiçoada e a parábola dos dois filhos e a parábola da festa das bodas e ainda outras parábolas e volta ao tempo dos estudos em Roma e ao pensamento de que aquele seu contemporâneo, vivendo no celeiro de bispos e cardeais brasileiros, nunca foi amigo de pompas, de honras, de manifestações ruidosas, mundanas. Que, ao deixar Roma e se embrenhar na Palestina, João selara em sua convicção mais profunda a nítida opção pelos pobres e pelas causas que ajudam os pobres a participarem da luta pela superação da pobreza.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Escrevendo um dia sobre o padre João, de quem foi colega de estudos em Fortaleza e Roma, Lauro Motta, professor da UFC e do ITEP, afirmou que saíra do clero para casar-se, mas não saíra da Igreja, da qual só se afastaria quando tivesse de viajar para a casa do Pai. Lauro viajou antes de conceder a entrevista que dele se esperava para enriquecer os depoimentos destas páginas. Mas ele deixou pegadas muito nítidas ao longo de sua caminhada ao lado de um colega, de quem soube falar com a sensibilidade de um poeta afeito ao ensino da filosofia e à reflexão teológica.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Na percepção de Lauro, João se destaca por duas características de difícil coabitação numa mesma pessoa: a firmeza das convicções e a suavidade nas atitudes. João lhe ensinou a amar a Igreja, respeitar as consciências, sentir com o povo. “Ele nunca se encastelou no elevado saber da Gregoriana”. Ao se aventurar pelas terras longínquas da Palestina, não perdeu o jeito cearense de ser. “Parecia que tinha ido só ali, à esquina”...</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Lauro viu em João o homem da práxis que traduz em ação a carga pesada da teoria; que doma a imaginação sedenta de irrealismo; que torna viável a utopia evangélica. Lauro também leu o livro de João intitulado “Construindo o amanhã” e nele constatou que em sua incursão no Oriente, João intenta não apenas conhecer aquele que inspirou seus pais a lhe darem o nome de João Batista, mas a concretizar o sonho de um possível “retorno de João Batista” para anunciar nos desertos do Nordeste um Novo Advento, para dizer aos que têm 10, 20, 50 camisas que há muitos quase despidos; para lembrar aos que estão se banqueteando que há migalhas caindo das mesas, e que há milhares a procurá-las nos restos depositados em lugares lúgubres pelos caminhões do lixo.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Lauro não aceitou o fato de o padre João não ter sido bispo, em virtude, em última análise, dos usos eclesiásticos que não levam em conta, na escolha dos candidatos, a participação dos padres e leigos da igreja local. A decisão fica engessada numa instância longínqua, não raro desconhecedora das reais necessidades regionais. Sem entrar em conflito com a hierarquia, ele dizia que assim como o papa tem os seus cardeais <i>in pectore</i>, também ele tinha <i>in pectore</i> os seus bispos. Entre estes, estava incluído o padre João Batista Frota então pároco do Patrocínio em Sobral.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Seja como for, bispo ou não, nada afetou o “jeito cearense de ser” do padre João, que Lauro encontrou em Sobral e assim descreveu: “Na paróquia, na universidade, na coordenação pastoral, nos trabalhos diocesanos, lá está aquele homem manso no falar e decidido no agir, poeta, filósofo, teólogo, sobretudo pastor e profeta, precursor autêntico de Deus, tanto na aridez de nossos desertos interiores, como na problemática complexa de nossas cidades”.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A opção de João pelos humildes impressiona pelo fato de não implicar no desprezo das pessoas de pertença social elevada, mesmo aquelas que estão longe de compartilhar os seus valores. O espanhol Dom Xavier, bispo de Tianguá, vai longe na percepção dessa atitude. A consistência da opção do padre João estaria enraizada em sua formação humanística, visto que só uma cultura filosófica sólida pode conferir fundamentação teológica consistente a uma pastoral sem preconceito. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O curso de filosofia é um curso de humanização, e, por isso, a Igreja não abre mão da formação filosófica de seus sacerdotes. Dom Xavier ressalta que algumas espiritualidades exaltadas minimizam a importância dos estudos humanísticos como se estes ameaçassem a identidade cristã. É um engano e uma pena porque “humanidade é humanidade”, que Deus não rejeita. Ao contrario, Deus a distinguiu quando o seu Filho assumiu a condição humana.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Esses testemunhos iniciais constituem uma indicação do quanto o padre João é percebido pelo olhar de seus contemporâneos como alguém que tem procurado assumir a condição humana (e desumana) de seus irmãos em Cristo. Por isso mesmo, é sempre indispensável ir além no acompanhamento de seus passos.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">(07/04/2011)</span><br />
<br />
<div style="text-align: left;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><i><span style="font-size: x-small;">Fonte da Imagem: Blog do Edílson</span></i><br />
</span></div></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-72574685125829149242011-04-08T06:22:00.000-07:002011-04-26T16:13:20.764-07:00À SOMBRA DA CATEDRAL<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6VL5wwdckxBpgqN6OkdUxUra-aFTQL6tQ6xXkg5MKBv9W3WBXr0n2hDGdcd3zyVjHUd36N78ioLSTi71ie5LwBxCBDSylK4A4CC5iSaYZU9TFtmm1bxbg7AJv4ArMd1MdK7sL69wdg8g/s1600/catedral%252BBamberg.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6VL5wwdckxBpgqN6OkdUxUra-aFTQL6tQ6xXkg5MKBv9W3WBXr0n2hDGdcd3zyVjHUd36N78ioLSTi71ie5LwBxCBDSylK4A4CC5iSaYZU9TFtmm1bxbg7AJv4ArMd1MdK7sL69wdg8g/s400/catedral%252BBamberg.JPG" width="400" /></a></td></tr>
<tr style="font-family: Verdana,sans-serif;"><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><small>Catedral Imperial de Bamberg-Alemanha</small></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><small></small></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><small></small></td></tr>
</tbody></table><br />
<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">25.06.1965. Início de verão muito calorento na Europa Central. Hoje peguei o trem em Estrasburgo, França, com destino a Bamberg na Baviera, Alemanha. Jean Rieux, colega canadense, ofereceu-se para me conduzir à estação. Roberto, amigo carioca, nos acompanhou. Conversamos no restaurante até a chegada do trem. </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Viagem terrível. Calor infernal. Lembrei-me de outra viagem em um trem da Rede Viação Cearense, entre Fortaleza e Recife. Também no Ceará fazia um calor intenso. Em Stuttgart, sobem três operários alemães. Estão de folga. Bebem cerveja quente e dão vazão a uma alegria rude. Um deles, visivelmente embriagado, tenta, sem sucesso, cantar uma jovem atenta à leitura de um livro. Os operários, um tanto desengonçados, descem em Nuremberg. </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Duas camponesas de meia idade ocupam os lugares deixados por eles. Também elas bebem cerveja e mastigam fatias do velho e bom bauerbrot (pão camponês). Uma delas faz gesto de oferecer-me um copo, mas a outra a dissuade dizendo que sou estrangeiro. O calor aumenta. A temperatura se torna insuportável. As mulheres me agradecem por ter a idéia de transformar um exemplar da revista Der Spiegel em sucedâneo de leque para arejar um pouco o ambiente. De repente, deixo de ser estranho. Elas falam, falam, fazem perguntas, querem saber coisas da vida cotidiana na França e no Brasil. Uma delas comenta: “o mundo é grande e cheio de diferenças”.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Na chegada a Bamberg, um desencontro à descida do trem não impede o reencontro com os Schäder em seu apartamento da pequena praça Schranne no centro histórico da cidade, quase à sombra das torres da catedral. O casal, Rita e Franz, como sempre muito amistoso. Os dois planejaram encontros com conhecidos: os Wohlleber, Josef Eckert, os Hoffmann, os Keiser, os Neubauer...</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Nas conversas, vêm à tona lembranças da primeira estada na cidade, no verão de 1961, com colegas do Pio Brasileiro em Roma, tendo por guia o padre jesuíta Marcelo Azevedo. As famílias, que então nos acolheram, tudo fizeram para facilitar uma primeira iniciação à cultura e à língua do país. Ao me preparar, em Roma, para a viagem, mal cobri as dez primeiras lições do método Assimil da língua alemã. Era quase nada.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Ocorreu que três dias depois de chegar em Bamberg, – à noite, de volta para casa com Otto Wohlleber – presenciamos um acidente: o choque de um ciclista com um pedestre. A polícia apareceu a tempo de dar encaminhamento ao fato. Em casa, tive grande dificuldade em descrever o ocorrido. Rita mal pode acreditar no que ouviu de mim. Na manhã seguinte, procurou Frau Wohlleber para ter a versão de seu filho. Por sorte, a versão dele coincidiu com a minha. Rita ainda hoje se pergunta como me foi possível narrar o fato com tamanha precisão. Eu também me pergunto.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Outro fato lembrado foi a ida dos brasileiros a Berlim, onde passamos alguns dias. Lá pudemos sentir de perto o clima de “guerra fria”. Tivemos uma reunião cuidadosamente planejada com estudantes numa paróquia no lado oriental da cidade. Saímos da reunião convencidos de que era iminente o fechamento da fronteira entre os dois lados de Berlim. Voltamos a Bamberg no dia 12 de agosto. No dia seguinte, 13 de agosto de 1961, o mundo era informado da decisão de construir o muro. Este viria a ter 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 120 redes metálicas eletrificadas com alarme e 225 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Durante 28 anos, até 13 de outubro de 1989, essa parafernália passaria a constituir, na consciência coletiva de boa parte do mundo, uma das imagens eloqüentes da “cortina de ferro”.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Voltemos a Bamberg e ao mês de junho de 1965. Os três dias passados ali foram preenchidos de muitos encontros e muitas evocações. Não pude deixar de reservar um momento para ir sozinho, pisando as pedras toscas de uma rua íngreme, até à catedral rever suas estátuas: Isabel “a mais bonita resposta de pedra à procura bíblica de uma mulher forte” e o cavaleiro ou “o gesto do cavaleiro em porte de viajar”. No jardim das rosas, logo ao lado, sentei-me à sombra de uma árvore apinhada de pássaros e vivi momento de incomensurável harmonia comigo mesmo, com os seres, com o mundo. Creio que ali me veio a inspiração de escrever modesto poema que divulgo agora pela primeira vez à guisa de conclusão desta nota:</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><b>Bamberg</b></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O amigo mandou o quadro </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">pintado em cores discretas </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">como a Bamberg convém</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">as quatro torres da catedral </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">que o povo ternamente diz der Dom</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">os sinos de São Miguel </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">o gesto da mulher oferecendo a casa</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">para eu passar a chuva</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">e a presença ubíqua </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">do rei Henrique santo </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">e da rainha Cunegunde também santa.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">O rio, a velha prefeitura, os montes, </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">a noite quase fria no caminho do parque</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">onde os cisnes eram símbolos de outros cisnes </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">a pracinha com no centro o Gabelmann </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">e meu desejo maluco</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">de entender o dialeto das crianças. </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">A face de Isabel na catedral </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">a mais bonita resposta de pedra</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">à procura bíblica de uma mulher forte.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu sei que os lampiões na parte antiga </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">eram propositadamente poucos</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">para que sua luz mal filtrasse a presença </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"> do anjo protetor da cidade</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">na noite dos homens esquecidos.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas quem poderá escrever o indizível </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">sugerido no segredo de Bamberg?</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Que artista montou no cavalo </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">o gesto do cavaleiro </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">em porte de viajar?</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu sei que viajamos todos nós </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"> e que é vã a procura dos sinais </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">de passos no caminho envelhecido.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas é que o amigo deixou branco </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">um detalhe no quadro remetido</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">e sinto não ser bom que fique assim.</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Por isso é com ternura que me ponho </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">a desenhar com tintas de saudade</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">estes sinais de interrogação: </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">um dia se eu voltar</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">recolherei os passos que perdi </div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;">no silêncio de tuas ruas medievas?</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>Fonte da Imagem: Site Wikipedia </i></span></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-52033507531681865962011-03-27T13:34:00.000-07:002011-04-26T16:14:06.026-07:00ONDE ESTÁ O JALECO?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt9QA_YRCHtjO0AvtmVPXA0_UBcGCcokn-MYH29lH6M_T_wltYGnTs4msaIt0nczeiS3hEYuuhwYZpGJWIAbpPjq-wfdMBXjhv8Gb_fWRWNgjX9nlHeIQBHR15uALpFRH13xCljV8xsAA/s1600/mao_crianca_adulto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="368" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt9QA_YRCHtjO0AvtmVPXA0_UBcGCcokn-MYH29lH6M_T_wltYGnTs4msaIt0nczeiS3hEYuuhwYZpGJWIAbpPjq-wfdMBXjhv8Gb_fWRWNgjX9nlHeIQBHR15uALpFRH13xCljV8xsAA/s400/mao_crianca_adulto.jpg" width="400" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Altas horas da noite em Fortaleza. Dois educadores sociais percorrem a orla marítima da Praia de Iracema à Praia do Futuro, atentos à presença de crianças e adolescentes em situação de risco ou em “ação pedinte”. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Por situação de risco, entenda-se: exposição ao tráfico ou consumo de drogas, ao furto ou roubo, à exploração sexual. Entenda-se por “ação pedinte”: pedir esmola, comida ou remédio, com a justificativa toda pronta de um pai doente, uma mãe também doente, “levar comida pra casa”, pagar o ônibus.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Isso ao embalo do sonho e ao delírio das promessas da vida na rua, ao torpor do sono na areia, à frieza das restrições da lei, à dura indiferença do mundo adulto.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A dupla de educadores faz parte de uma equipe mais numerosa, que atua, em diferentes turnos e em diferentes pontos da cidade, integrada ao programa Criança fora da Rua, dentro da Escola.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O percurso diurnal dos educadores nem sempre segue o mesmo itinerário. Os que vieram ter comigo na Secretaria de Ação Social, que coordena o programa, trouxeram breves anotações sobre fatos ocorridos recentemente. Eu mesmo tive oportunidade de acompanhá-los alguma vez para sentir de perto a reação das crianças abordadas.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Nas últimas noites percorreram-se, além da Beira Mar, as avenidas Virgílio Távora, Santos Dumont, Santana Júnior, Antonio Tomás, Heráclito Graça, 13 de Maio e Luciano Carneiro até o aeroporto. Na Beira Mar, em frente à Peixada do Meio, havia duas crianças dormindo debaixo de uma jangada. A mãe, Dona Lúcia, estava logo ali, vendendo bebidas alcoólicas numa barraca. Constatou-se que as crianças eram beneficiárias do programa. Dona Lúcia resistiu a se identificar, com receio de perder o ganho da bolsa.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">De madrugada, no aeroporto, duas mães dizem que ali estão para apanhar os filhos. Não é verdade. Dois motoristas de taxi e um policial militar testemunham que as conhecem e que recebem das crianças o dinheiro por elas recolhido. São alertadas sobre a situação de flagrante exploração econômica dos filhos. Não é papel dos educadores autuá-las. Mas são advertidas de que no dia seguinte serão visitadas, em suas casas na Vila União, pela equipe diurna que as orientará sobre como cadastrar as crianças. No retorno à Beira Mar, a equipe deparou os habituais meninos com uniforme dos jornais O Povo, Tribuna, Diário do Nordeste. Os educadores encerram o percurso na Praia do Futuro sem que ali constatem a presença de crianças. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Em 04.02.1997, a equipe reencontra na Praia de Iracema, alguns adolescentes engraxates, já conhecidos do programa. Eles tentam evitar a abordagem. Aproximam-se de um cidadão vestido a rigor, cabelo raspado, fumando charuto. Trata-se de um italiano, também ele conhecido na área, que às vezes chega de carro, às vezes de moto japonesa de 50 cilindradas. Um vendedor ambulante viu várias vezes o homem doar aos meninos provisões alimentícias, transportá-los em um veículo Opala e até recolher valores conseguidos por eles na Praia de Iracema.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Um aspecto crucial do projeto, chamado carinhosamente “Fora e Dentro”, reside justamente no encontro do educador social – o “amarelinho” por causa do jaleco que endossa - com o menino e a menina no cenário diurno e noturno da rua. Esse encontro é o ponto de partida de todo um processo estruturado para reorientar o destino dessas crianças e de suas famílias, devolvendo-lhes uma perspectiva de reinserção à escola, ao saneamento, aos atos médicos, à moradia, ao trabalho, à vida em sociedade, mediante a aplicação correta de recursos socialmente disponíveis.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O programa foi lançado em 8 de julho de 1976. Coordenado pela Secretaria do Trabalho e Ação Social, a ele dedicaram atenção e esforço muitos técnicos competentes em sua fase de preparação e no período de sua implementação. Antes de seu lançamento, houve seis meses de testes de abordagem de meninos em “situação de rua”, assim como de intercâmbio com membros do Judiciário e do Ministério Público, com órgãos policiais, representantes de ONGs, empresários, os meios de comunicação social e, last but not least, com as diversas secretarias setoriais.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Muito há a dizer sobre esse projeto e outros mais voltados para a infância e a adolescência nos anos 80 e 90, particularmente aqueles inseridos no “Proares”. Foram projetos que, com maior ou menor sucesso, centraram-se em quatro dimensões:</div><ol style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><li>garantia de acesso e permanência na escola e em programas sociais para crianças e adolescentes em situação de risco;</li>
<li>concessão de bolsa escola, no valor de 50% a 100% do salário mínimo, em função do número de filhos e da renda familiar per capita;</li>
<li>atenção seletiva às famílias dos meninos, oferecendo-lhes acesso a programas de emprego e renda, de capacitação profissional, instrumental de trabalho, expedição de documentos, recuperação de moradias, concessão de cestas básicas, atendimento médico e psicossocial, entre outros projetos desenvolvidos pela própria secretaria;</li>
<li>envolvimento de outros órgãos governamentais e da sociedade civil visando a conquista ética de nova postura em relação à problemática do “menino de rua”.</li>
</ol><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Deve-se a Rosélia Maria Fernandes Monteiro de Farias o exame acurado da dimensão social do programa no campo específico da proteção à infância e à adolescência: O programa “Criança Fora da Rua, Dentro da Escola” no contexto do enfrentamento à Pobreza, 1998. A autora pontua a situação dos meninos e meninas, assim como a de seus familiares, na trajetória da rua e da sobrevivência. Descreve os seus aspectos organizacionais e operacionais, seu campo de abrangência, a interação com as políticas sociais básicas, os resultados alcançados.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Lembra que em outubro de 1997, quinze messes depois de seu lançamento, o programa foi selecionado por comitê técnico da FGV como finalista dentre 400 experiências brasileiras de defesa da cidadania infantil e juvenil. E que em novembro do mesmo ano, submetido a uma avaliação in loco foi classificado entre os vinte primeiros finalistas, tendo inclusive recebido um prêmio financeiro.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Rosélia destaca os benefícios diretos e indiretos verificados no cotidiano das famílias: elevação da renda familiar, aplicação criteriosa do recurso da bolsa em necessidades básicas, acesso e permanência dos filhos na escola e em equipamentos comunitários; redução do trabalho infantil, participação em projeto de capacitação, elevação da auto-estima. E conclui que o programa pode ser entendido como “um instrumento social positivo, ainda que de pequeno alcance, em face da ampla parcela da população de baixa renda não contemplada e à limitação dos recursos financeiros que lhe são destinados”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A memória está sempre a nos pregar das suas. Faz poucos dias, ao passar por um ponto da 13 de Maio, me dei conta da ausência de um amarelinho. Ou de uma amarelinha. Aonde terão ido eles? Será verdade que o programa foi modificado? E o jaleco endossado pelos educadores com sua logomarca: “Criança Fora da Rua, Dentro da Escola”? A Secretaria terá tido o cuidado de conservar uma amostra do jaleco em algum lugar de sua memória? Talvez no Centro de Referência. E por falar no Centro, eu me pergunto e pergunto a Isabel Pontes e a Rosélia de Farias, que nele muito investiram de sua confiança. Rosélia, ou Bel, onde está e o que faz o Centro de Referência Maurice Pate (saudoso Diretor Geral do UNICEF)? Aquele centro plantado na Barão de Studart, em frente ao palácio da Abolição, com a finalidade de preservar estudos sobre a infância e a adolescência no Ceará e no Brasil? Ele era ladeado por uma creche modelo destinada aos filhos dos funcionários da Secretaria. E a creche, "quede" a creche?</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-88883844063903651752011-03-27T13:17:00.000-07:002011-04-26T16:14:43.769-07:00A BÚSSOLA E O RUMO<div style="text-align: right;"><b> </b></div><div style="text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2010/10/A+B%C3%BAssola+e+o+Rumo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="size-full wp-image-1147 alignleft" height="231" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2010/10/A+B%C3%BAssola+e+o+Rumo.jpg" style="margin: 1px 10px;" title="A+Bússola+e+o+Rumo" width="370" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Finalzinho da tarde, ou começo da noite, <i>t</i><i>anto faz</i>. Em Aracati, à saída do campus da FVJ, abordam-me duas alunas do curso de serviço social: “diga, por favor, o que se pode esperar de útil da disciplina sociologia”. Estava concentrado em contemplar, lá para onde o Jaguaribe se derrama no mar, um retalho de nuvem que mergulhava lentamente no reino das trevas. As cores indefinidas da paisagem crepuscular sugeriam, como resposta às alunas, algo de triste ou alegre. Ou algo de simplesmente neutro. Como reagiriam elas se lhes dissesse que a sociologia é uma bússola que indica o norte no emaranhado sombrio das ações e reações produzidas pelos humanos em seu viver cotidiano? Poderiam contestar que outras áreas de conhecimento também servem de bússola. E dedilhar toda uma ladainha: a história, a antropologia, a economia, a ciência política, o direito, as políticas públicas, as ciências contábeis, a ciência da administração, a criminologia, a filosofia, o serviço social, a lingüística, a literatura, a geografia humana…</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Teria então de lembrar-lhes que a história fixa sua atenção nas ações humanas ocorridas no passado. Que a antropologia cuida das relações humanas no quadro de sociedades em estágios de desenvolvimentos diferentes daquele em que se encontra a nossa. E que a economia, ao lidar com a produção e a distribuição de bens, ocupa-se de mensurar os custos e benefícios das ações humanas. Além disso, teria talvez de vira-voltear em torno da idéia repisada de que nenhuma dessas áreas é estranha ao faro da sociologia. Por serem os humanos mutuamente interdependentes, também interdependem os conhecimentos que produzem. E o sociólogo não deixa de ser o intérprete das implicações sociais, políticas, econômicas e culturais decorrentes de fatores desenvolvidos no âmbito desses saberes.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><span id="more-1146"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Em meu tempo de estudante, nos anos contidos – <i>ai de mim -</i> lá pela sexta década do século passado, a sociologia se apresentava como estudo científico do social, seja no nível elementar das relações interpessoais, seja no nível macro dos grandes conjuntos, das classes, nações, civilizações ou daquilo que já surgia no horizonte como as sociedades globais. Passado tanto tempo, ainda me pergunto em que a sociologia afeta a minha vida. Continuo sensível ao seu papel esclarecedor. Ela me tem ajudado e creio que pode ajudar a muitos a melhorar a compreensão a respeito de nós, dos outros e das condições sócio-culturais em que vivemos nossas relações mútuas. Essa ajuda me parece particularmente oportuna nesse momento em que, no Chile, somos impactados pela intensidade humana vivenciada por trinta e três mineiros extraídos a fórceps do ventre profundo de um deserto e, no Brasil, somos provocados pelo estridor do apelo de dois contendores que nos pedem adesão a suas propostas de continuidade ou ressurgimento de todo um país.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
E às alunas que dizer? Dizer-lhes que vale o esforço de introjetar a sociologia em nós mesmos, em nosso pensamento, nossa ação, nosso sentimento. Encarnar a idéia de que o pensamento sociológico ilumina, em inúmeras circunstâncias, aspectos da realidade, que, de outra forma, poderiam passar despercebidos. Esse pensar nos lembra, a cada instante, que somos vinculados uns aos outros. E que a sociologia oferece aos humanos e à vida dos homens e mulheres “o entendimento produtor de tolerância e a tolerância que viabiliza o entendimento” na palavra de dois sociólogos, Zygmunt Baumam e Tim May, autores do livro “<i>Aprendendo a pensar com a Sociologia.</i></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-29307645656854250612011-03-23T11:49:00.000-07:002011-04-26T16:15:15.468-07:00MÃOS À OBRA<div style="text-align: right;"><b></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/reuniao.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="alignleft size-full wp-image-1982" height="299" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/reuniao.jpg" style="margin: 1px 4px;" title="reuniao" width="400" /> </a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">12.03.2011. Mais um sábado de intenso intercâmbio entre os mantenedores da Faculdade do Vale do Jaguaribe, FVJ, e os dirigentes dos setores acadêmicos e administrativos. Com essa reunião, encerra-se longo processo de planejamento estratégico e de esforço coletivo, promovido com a finalidade de inserir na instituição uma cultura de participação e competência técnica.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Os mantenedores mostram-se receptivos em relação aos diferentes níveis de contribuição dos colaboradores. Estes, por sua vez, têm crescido na determinação de abraçar os objetivos e as metas planejadas.<span id="more-1981"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Durante o levantamento e a análise dos dados, nada de escamotear problemas existentes. Nem de ter receio de assumir uma atitude cooperativa na busca de corrigir fragilidades.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A faculdade reúne ao todo 11 cursos: administração, turismo, pedagogia, letras, serviço social, enfermagem, educação física, processos gerenciais, recursos humanos, gestão hospitalar e, em breve, fisioterapia. Os cursos de pós-graduação articulam-se nas áreas de educação, saúde, empresariais, ambientais e tecnológicas.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Cerca de três mil alunos freqüentam hoje os cursos de graduação, pós-graduação e extensão. São pessoas oriundas de Aracati e de municípios da faixa litorânea e do Baixo Jaguaribe. Há alunos procedentes também do vizinho estado do Rio Grande do Norte.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Implantar um sistema de planejamento estratégico em uma organização educacional significa passar por dois momentos cruciais: a) formar um organograma funcional compreendendo grupos de trabalho bem integrados, conduzidos por lideranças criativas e b) construir um modelo de gestão orientado a promover a execução de atividades devidamente distribuídas no tempo (calendário). Para tanto, é preciso formar pessoas motivadas ao trabalho conjunto de prever, executar e avaliar ações de qualidade.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Ao avaliarem o evento, os participantes consideraram que os mantenedores têm sido atentos às observações dos responsáveis de cada setor. Que, entre estes últimos, há a preocupação de cooperar para o real crescimento da faculdade. E que, comparativamente ao passado, a reunião inaugurou um modelo novo de construir consensos entre o acadêmico e o administrativo-financeiro.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A esse respeito, convêm, observar que nem tudo são flores. Os muitos planos de ação propostos no planejamento estratégico dividem-se entre as duas áreas (acadêmica e administrativa) de modo não exatamente coerente, o que pode gerar interferências mútuas, daí resultando prejuízos para o bom andamento dos trabalhos. Na prática, nem sempre é possível à área acadêmica, em suas atividades fim, evitar a intromissão da área de gestão, como nem sempre a área de gestão, em suas atividades meio, deixa de receber a interveniência da área acadêmica. Os técnicos de planejamento reconhecem que se trata de uma questão a ser resolvida com o amadurecimento da organização. Sendo então possível pôr em prática saudáveis interdependência e complementaridade.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Outro ponto destacado foi a necessidade de prestar atenção aos critérios de definição dos cursos, considerando-se o seu impacto sobre a realidade. A pergunta é: que cursos promover em resposta a demandas manifestas ou implícitas detectadas a partir do estudo objetivo da realidade regional? Trata-se de buscar o justo equilíbrio entre cursos tradicionais básicos e cursos de aplicação a situações específicas.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Lembrou-se ainda que, no início, esperava-se mais rapidez no processo de implementação da faculdade. A crise que se abateu sobre a região provocou a diminuição do emprego, a tibieza na execução das políticas públicas e, em particular, a lentidão na execução de obras de infra-estrutura. Seja como for, a faculdade está ligada à idéia da retomada do crescimento em alguns<b> </b>setores da economia como, por exemplo, o turismo, a energia eólica, o aeroporto internacional, com possível impacto sobre a construção civil e a área de serviços em suas múltiplas ramificações.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Há também ameaças internas a serem enfrentadas: a inadimplência dos alunos, a carência de professores em determinadas áreas, o ritmo lento da expansão do campus. Diga-se, porém, que um dos méritos do encontro foi o de detalhar ponto por ponto os aspectos setoriais necessitados de atualização e de ações corretivas. Para a superação de cada um desses aspetos, metas, prazos de execução e responsáveis foram claramente definidos.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Quê falta agora? Quase nada ou quase tudo. Falta apenas dar continuidade à boa sinergia de “mãos à obra”.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-26931764567612392862011-03-23T11:47:00.000-07:002011-04-26T16:16:11.878-07:00UM DIA DE SÁBADO EM ARACATI<div style="text-align: right;"><b><br />
</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/DSC01659.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="alignleft size-full wp-image-1929" height="296" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/DSC01659.jpg" style="margin: 1px 10px;" title="DSC01659" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">20.02.2011. Dia movimentado no campus da Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVJ) em Aracati. Continuam ativos os procedimentos diários do ano acadêmico: ajustes na lotação de professores, regularização da matrícula de alunos retardatários, construção de novas salas, além da inevitável pergunta no ar: haverá ou não carnaval na cidade dos bons ventos?</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A pergunta procede, seja em virtude de medidas judiciais suscitadas pela crise da saúde pública no município, seja por causa da incerteza provocada pelo ritmo lento das obras na ponte sobre o Rio Jaguaribe.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A população, embora perplexa, não parece desanimar em sua tríplice expectativa de que se encontre remédio para a saúde, se acelerem as obras da ponte e aconteça a festa. Tudo está logicamente interligado.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Esse clima não entibia a disposição da faculdade de dar prosseguimento ao seu calendário. Apesar de ser sábado, encontram-se em curso dois eventos de impacto. Por um lado, estão reunidos os mantenedores com os quadros dirigentes da instituição avaliando o ano de 2010 e ultimando o planejamento de 2011. Três pontos em pauta: organograma atualizado da graduação, inovações no modelo de gestão e aprimoramento da qualidade em pós-graduação.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Por outro lado, cinco bancas examinam os trabalhos de curso de duas turmas de pós-graduação: <i> </i>21 alunos apresentam seus trabalhos de conclusão da “especialização em ensino da matemática” às bancas examinadoras formadas pelos professores Álvaro Nunes, Lídia Lourinho, Everton do Nascimento (1ª banca); Antonio Suerliton, Auridete Fonteles, Maria Luiza Bento (2ª banca). Já 27 outros alunos discorrem sobre museologia tendo como examinadores os professores Roberto Xavier, Edson da Costa, Márcio Porto (1ª turma); Kleiton Santiago, Mário Henrique Benevides e Gerciane Oliveira (2ª banca); Mário Viana, Rafael da Silva e Patrícia Xavier (3ª turma).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O grupo “especialização em matemática” fixou a atenção em métodos e técnicas que ajudem a tornar mais eficaz o processo de ensino-aprendizagem da matemática. Os trabalhos apresentados foram avaliados pelos examinadores à luz dos critérios: objetividade e aplicabilidade dos textos; domínio do conteúdo e clareza de exposição por parte do aluno; referencial teórico e relação parcialidade- imparcialidade da pesquisa.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Os candidatos fizeram observações sobre o dia a dia escolar elevadas ao nível da reflexão científica e pedagógica. Foi possível perceber que os autores estão imbuídos da consciência de que é necessário ensinar matemática de modo inovador que ajude os alunos a vinculares, em dimensão interdisciplinar, raciocínio e motivação a outros conteúdos inscritos no projeto político-pedagógico das escolas. Cabe ao especialista em ensino da matemática a tarefa de lidar com essa articulação.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/DSC01675.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="size-full wp-image-1930 alignright" height="300" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/03/DSC01675.jpg" style="margin: 1px 10px;" title="DSC01675" width="400" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A turma de museologia penetrou a realidade histórico-cultural da região, destacando temas peculiares dos municípios: casas de memória, monumentos, tradições, casarões de Aracati, vestígios muitos de objetos que falam porque estão revestidos de história. Só para citar alguns poucos temas: “Museu do Sertão na cidade de Mossoró: entre representações e práticas culturais”, “Ponte Juscelino Kubistchek em Aracati: relevância histórica e patrimonial”, “ O processo abolicionista gestado por Dragão do Mar: revisitando um patrimônio histórico imaterial”, “A comunidade do Caetano e a prática dos ecos-museus: história e memória na construção de identidades” “ O potencial educativo dos objetos do memorial de Beberibe”, “Um museu a céu aberto: museologia e o pensamento urbano de Aracati”. E outros e outros temas igualmente impactantes.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Esses trabalhos expressam uma dupla integração da Vale do Jaguaribe ao contexto educativo e sócio-político em que está inserida. A especialização de professores de matemática junta-se ao trabalho de especializar professores em línguas, particularmente Português, ficando assim evidenciada a sua contribuição para formar jovens em expressão oral, escrita e cálculo, competências estas indispensáveis ao bom desempenho das escolas da região. Por outro lado, a faculdade incute nos professores a capacidade de ensinar os alunos a dialogarem com a riqueza material e imaterial dos objetos, das tradições, da historicidade da região onde vivem. O que os leva a assimilarem, com desenvoltura, outras dimensões da realidade: no estado, no país e no mundo.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-37688354801766019952011-03-23T11:42:00.000-07:002011-04-26T16:15:42.142-07:00LIBERDADE DELES E NOSSA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqHANpaLXGbSOWnxYMvYVJ-lojrwZ-IijjiMZlRRn_VYyMcvjjdvNiGHV4taZbC9MxWYa-g1b-kXvUpeaSHNkje-9UcT-Q7lsL4VUObIuGUtMNA9aiCWRNwtoLtCncPA65qMY5Cw9snzg/s1600/prisio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqHANpaLXGbSOWnxYMvYVJ-lojrwZ-IijjiMZlRRn_VYyMcvjjdvNiGHV4taZbC9MxWYa-g1b-kXvUpeaSHNkje-9UcT-Q7lsL4VUObIuGUtMNA9aiCWRNwtoLtCncPA65qMY5Cw9snzg/s400/prisio.jpg" width="388" /></a></div><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> </span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">16.10.2007. Como secretário estadual do Trabalho e Ação Social, presidi hoje a inauguração do Centro Educacional São Francisco, construído ao lado do Centro São Miguel com aporte financeiro do governo federal. Valor da obra: R$ 350 mil. Presentes ao evento: autoridades do Executivo, Judiciário, Ministério Público, policiais e representantes de organizações não-governamentais.</span> </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Em breve introdução, lembrei, com alguma lucidez, que o destino ideal do prédio seria o de ter a menor ocupação possível. Previsto para abrigar 45 jovens em regime de privação de liberdade, espera-se que possibilite a separação dos autores de infração de maior complexidade, lotados no São Miguel, dos meninos responsáveis por ações menos graves. Estes ficarão no São Francisco.<span id="more-1906"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Com isso, o Ceará dá um passo no reordenamento da política de proteção integral e afasta das casas de privação o monstro da superlotação e o fantasma da promiscuidade. É imperioso tudo fazer para que sejam acolhidos em ambos os centros um número de internos sempre inferior ao que podem comportar. Seria puro sadismo supor que quanto mais meninos recolhidos indiscriminadamente melhor estaria funcionando o sistema.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">É justamente o contrário o que está inscrito no espírito do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ele trata do assunto na parte dedicada às medidas sócio-educativas, que incluem: advertência pedagogicamente orientada, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida e inserção em regime de semi-liberdade.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Destaque-se o fato de que a construção do São Francisco foi planejada em bom entendimento do Executivo com o Judiciário, o Ministério Público, as corporações policiais e representantes de organizações da sociedade civil. Insistiu-se, nas reuniões preparatórias, sobre a importância de conferir maior agilidade aos processos com vistas a suscitar no jovem a consciência da proximidade entre o ato infracional cometido e a medida sócio-educativa aplicada.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Convém sublinhar também a urgência ética de promover nos internatos um ambiente favorável à superação do quadro amorfo da ociosidade no seu dia-a-dia. Para tanto será indispensável dar vida e regularidade às ações de educação formal, às atividades profissionalizantes, aos momentos de lazer e cultura, assim como às dinâmicas de integração interpessoal.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Tudo isso constitui função básica dos educadores sociais chamados a lidar com os jovens internos. Em seu desempenho profissional, devem ter profundo conhecimento não apenas do Estatuto, mas dos jovens autores de infração em suas condições de vida social, familiar e pessoal. Só assim poderão assimilar devidamente as características de suas personalidades e o seu potencial de ressocialização.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Aos operadores do direito cabe a urgente tarefa de refletir sobre o paradoxo presente na tensão entre os dois papeis atribuídos, na legislação, à privação da liberdade: “punir e recuperar”. Como conciliar os termos desse paradoxo? Como tornar possível educar esses jovens para o exercício da liberdade em um espaço e um tempo marcados pela negação da liberdade? A pergunta é pertinente. A resposta nem sempre tem sido suficientemente elucidativa.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">É obrigação da comunidade, enfim, contribuir para que se escancarem as portas dos estabelecimentos onde os jovens cumprem as citadas medidas. Essa abertura deve ocorrer não só em relação aos familiares, mas ao olhar das chamadas forças vivas da sociedade. Todos devem ter a possibilidade de conhecer o atendimento pedagógico dispensado aos jovens, criticar ou apoiar a ação dos órgãos públicos, incentivar a correta aplicação das medidas, de modo que elas resultem em instrumento eficaz de construção da cidadania e da liberdade dos meninos. De nossa liberdade e de nossa cidadania de adultos.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-40232769964809121362011-03-23T11:38:00.000-07:002011-04-26T16:17:27.875-07:00ROMARIA IBÉRICA<div style="text-align: right;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"></div><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/02/san-sebastian.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="alignleft size-full wp-image-1879" height="264" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/02/san-sebastian.jpg" style="margin: 1px 5px;" title="san sebastian" width="400" /></a><br />
<br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Hoje, 19 de julho de 1965. Acabo de pisar o solo espanhol em San Sebastian. Somos uma caravana de 20 pessoas: 15 jovens concludentes do curso secundário e o vigário de Saint-Georges-de-Luzençon (França, Região Midi-Pyrinées, Departamento de Aveyron), o motorista, Pierre, Jean e eu. Foi Pierre, meu colega em um curso intensivo de um ano na Universidade de Estrasburgo, que me convidou para ser guia e intérprete numa viagem por Espanha e Portugal. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">No programa, previsão de dormir esta noite em um camping em Burgos. Numa parada no monte Iguelda, em frente a um parque de diversões, surgiu o convite: “Vocês querem rir? Então entrem. Entrem, senhores, entrem no Grande Labirinto. Terão as mais alegres diversões: risa, broma, humor, alegria y musica. Dos ricos varões aos de pouca renda (pequeño sueldo), ninguém deixa Igueldo sem ver estas atrações”. <span id="more-1877"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Em Burgos, no pedestal da estátua de Cid, El Campeador: “Levando consigo sempre a vitória, por sua nunca frustrada clarividência, pela prudente firmeza de caráter e por sua heróica bravura, um milagre dos grandes milagres do Criador”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Ao guia coube explicar não só quem foi o Cid, mas que aos espanhóis agradam declarações grandiloqüentes e avisos como este pregado à porta de uma das igrejas visitadas: “Mulher cristã, por respeito ao templo, evite entrar sem meias, sem que a manga cubra o cotovelo, com decote exagerado, sem que as saias cubram convenientemente os joelhos”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Em Salamanca, hora da sesta. Muita gente dorme. O sol em fogo ardente. Não importa. A hora é propícia para vagabundear pela cidade. Em cada esquina, um monumento. Na igreja de Vera Cruz, uma religiosa em profunda contemplação ao Santíssimo Sacramento. Em redor do Santíssimo, o mundo “plateresco” do céu barroco espanhol. A forma branca da contemplativa traz a lembrança de Santa Tereza, a que nasceu em Ávila.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Em Tordesilhas, não vimos traço do tratado arbitrado pelo papa Alexandre VI, pelo qual o Brasil, antes de existir oficialmente, foi cedido a Portugal. Encontramos, sim, uma mulher que enchia sua ânfora na fonte, e fez questão de me confundir com um alemão. Não que eu pareça um alemão, mas a mulher precisava dizer a todos que ihr Mann, seu marido, trabalha na Alemanha, como o fazem muitos outros (espanhóis, portugueses e mediterrâneos). Marido na Alemanha dá status.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">No percurso até Salamanca, algumas constatações. <i>Rudez:</i> é rude o clima, é tosco o chão, áspera a arte, duro o esporte (as touradas). As mulheres quase sempre de preto. Cegos vendendo bilhetes de loteria. Culto do Santíssimo Cristo: cabelos postiços, lança cravada ao lado direito. À noite, muita vivacidade popular, mas pouca alusão à vida política (como na Itália e França p. ex.)</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Deixamos Espanha em Fuentes de Oñoso e entramos em Portugal por Vilar Formoso. Na alfândega, o agente lembra que os brasileiros têm “mais regalia” e me carimba no passaporte seis meses de permanência. Não será preciso tanto. Parada em Guarda para comprar a comida do almoço. O almoço ocorreu em uma sala da igreja da Misericórdia, com autorização do sacristão. Os franceses vibram com a beleza dos móveis e com a acolhida. Mas antes de chegarmos nós à sala da igreja, chegaram ao mercado os músicos com uma gaita de fole, dois tambores e uma marchinha bem ritmada.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">As vendedeiras esqueceram as vendas e os clientes. Abraçaram-se umas às outras e, pés descalços, se puseram a dançar. Uma delas era gorda, um tanto idosa, um tanto feia. Mas dançava e ria e, durante três minutos, foi pássaro, abelha, flor, vento, miragem. Voltou à banca a tempo de ouvir meu alerta sobre as abelhas pousadas nos doces que vendia. E ela, eufórica: “oh, meu senhor, os bichinhos de Deus também têm direito de gostar do que é bom”. Oh, como têm.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left;"><a href="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/02/Torre_Belem_Lisboa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" class="alignright size-full wp-image-1880" height="298" src="http://universo.fvj.br/wp-content/uploads/2011/02/Torre_Belem_Lisboa.jpg" style="margin: 1px 5px;" title="Torre_Belem_(Lisboa)" width="400" /></a>A poucos quilômetros de Guarda, Belmonte. Aqui nasceu Cabral, aquele que (por descuido?) deu com o costado no Brasil. Em Castelo Branco, somos recebidos nos jardins do Paço e depois vamos ao seminário, onde ocorre interessante debate franco-lusitano. À pergunta de um dos franceses (mais França ou Portugal?) respondo que, posto na balança, meu coração pende para Portugal. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Ao passar por Porto-Alegre, pensei mostrar ao grupo uma fábrica de cortiça em funcionamento e explicar a importância da produção das tampas de garrafa do vinho francês na economia local. Impossível. É sábado. Em Évora, tomou-se a decisão de ir direto para Lisboa sem parar em Setúbal. Ligo para Maria Tereza, e explico a mudança. Maria Tereza, também ela, foi minha colega de estudo em Estrasburgo. Seu pai, um almirante da reserva, e sua irmã Helena foram muito acolhedores. O almirante nos deu lição sobre mares por ele navegados. Explicou a arquitetura de sua casa, inspirada na planta de um navio.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Maria Tereza e a irmã facilitaram as visitas aos pontos turísticos da cidade (monumentos, tourada, fado, banho de mar) e contatos com grupos de orientação católica em oposição ao regime, e com jovens marcados pela participação forçada na guerra colonial. É o caso do noivo de Maria Tereza.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A permanência no camping favoreceu contatos com famílias portuguesas que deram indicações preciosas para o retorno em direção ao norte, até chegar a Santiago de Compostela. Isso facilitou bastante a acolhida em Alcobaça, Batalha, Nazaré, Fátima e Braga. Ajudou também a desfazer em alguns jovens franceses certo tipo de visão estereotipada e de preconceito. Encontro com o engenheiro Calvário e familiares. Ele me levou a conhecer o Arquivo Histórico Ultramarino e fez de tudo para me convencer a pleitear uma bolsa da Fundação Gulbenkian para uma temporada em Lisboa.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Durante a viagem, o grupo pernoitou quase sempre em campings. Vez por outra, foi possível dormir em albergues ou em casas de religiosos. Tinha-se então a oportunidade de um banho em regra e de lavar camisas e peças íntimas. Em Fátima, o pernoite foi excelente. Depois do jantar, visita à capelinha construída no lugar onde se deram as aparições. Um frade capuchinho falou da dimensão espiritual da visita. Fiz a tradução simultânea. Dois jovens levantaram objeções. O frade respondeu com serenidade e respeito. Os jovens não revidaram.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Na manhã seguinte, visita ao santuário, e mais uma avaliação da viagem. Foram citados casos que tocaram fundo os membros do grupo. Superação de idéias preconcebidas sobre os dois países visitados e seus habitantes. Reconsideração dos modelos próprios de compreender, julgar e sentir, a partir dos valores percebidos nas populações locais.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Santiago de Compostela. Cada um subiu ou deixou de subir a escadinha atrás do altar. Cada um beijou ou deixou de beijar o manto do santo à altura do ombro, como têm feito peregrinos desde a Idade Média. Um dos jovens disse, durante a avaliação, que não seria razoável duvidar dos sentimentos das pessoas. Mas não se sentira capaz de fazer o gesto do beijar o santo, por uma questão de autenticidade.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Entre os adultos do grupo, foi Pierre quem mais dialogou com cada um dos jovens. Todos concordaram com ele quando explicou que a viagem estava sendo uma romaria em busca de ampliar a compreensão do mundo e das pessoas. De tornar mais abrangente a própria percepção da realidade: “Só um espírito verdadeiramente universal pode captar a riqueza do particular”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Retorno a Saint-Georges e ao tempo que virá.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-17128343452557291972011-03-23T11:33:00.000-07:002011-04-26T16:18:00.146-07:00UM PROCESSO EM MARCHA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaqJVBUy4jxjH2HK57sAToyXF9Y5uhxPDY5eizLQgVHVwOB2CNEMHyK5lQ9ZjSVUCTipuMa-mTCw4jz73vb2JTFfcjSlZ9GC5FbWiJWLUwb5STcWC3qFNNPXQ17jA37-PrDabQNISXeQE/s1600/forum-social.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaqJVBUy4jxjH2HK57sAToyXF9Y5uhxPDY5eizLQgVHVwOB2CNEMHyK5lQ9ZjSVUCTipuMa-mTCw4jz73vb2JTFfcjSlZ9GC5FbWiJWLUwb5STcWC3qFNNPXQ17jA37-PrDabQNISXeQE/s400/forum-social.jpg" width="400" /></a></div><br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O Fórum Social, em sua 11ª etapa de peregrinação mundial, acaba de montar a sua tenda na cidade de Dacar, capital do Senegal. Representantes de 123 países, num total de 50 mil pessoas, debatem o tema geral “<i>As crises do Sistema e das Civilizações”. </i>Os organizadores pretendem dar um tratamento didático ao assunto, distribuindo-o em alguns sub-temas: “<i>A dimensão mundial da crise</i>”; “<i>A situação dos movimentos sociais e dos cidadãos</i>” e “<i>Os processos dos fóruns sociais mundiais</i>”. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Parece, porém, que a realidade do mundo e dos povos caminha mais depressa do que as idéias dos formuladores políticos e sociais. As situações temáticas anunciadas correm o risco saudável de serem embaralhadas, seja pela enorme afluência de participantes com aspirações não necessariamente convergentes, seja pelas explosões recentes ocorridas nos países árabes, que podem forçar uma queda de ponta-cabeça nas linhas de reflexão.<span id="more-1797"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Não se pretende com isso diminuir o papel importante do evento em seu anseio de difundir a idéia de que é possível implantar mundo afora uma nova ordem social diferente daquela que aí está.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">É bom que o fórum esteja a acontecer, mais uma vez, na África. A África não é um lugar qualquer. É um continente marcado pela herança de um processo histórico incompleto, abortado pela dimensão trágica da colonização. Rica em potencialidades é uma terra extorquida de seus filhos (seres humanos) e de sua fauna, sugada de suas matérias primas, ferida em sua identidade cultural.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Impossível imaginar o que se passa em Dacar sem considerar que o evento é fruto de um “processo em marcha” alimentado pelo engajamento político de muitos, assim como pela reflexão silenciosa de outros.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">A conjunção do Fórum como mobilização social e da África como cenário a clamar por alternância (ou, como dizem, por um <i>altermundialismo</i>) me estimula a extrair do baú da memória as figuras de dois cidadãos, que, cada um a seu modo, têm muito a ver com o que ocorre em Dacar. Um é brasileiro, Francisco Whitaker, o Chico, o outro é o benim Basile Kossou (de Benim, antigo Dahomey – África).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Chico, pensador atuante, é mais que um artesão a entrelaçar os fios de muitos panos. É também um alfaiate. Ao lidar com o tecido social, engendra diálogo e interlocução. Foi assim em seu tempo de Paris, em São Paulo como vereador, em Brasília como consultor da CNBB. E lá está ele em Dacar, estrategista e pedagogo, a descrever melhor do que outros aquilo em que consiste o processo do fórum.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Põe em destaque cinco aspectos inovadores do FSM: 1. criação de um espaço internacional aberto a todos que compartilham o objetivo geral do Fórum: 2. espaço propício ao reconhecimento mútuo, à troca de experiências e ao estabelecimento de novas alianças; 3. na luta política, a positiva diversidade de ações e a autonomia dos diferentes atores; 4. modelo de nova cultura política , baseada na horizontalidade das relações, na co-responsabilidade e busca de consenso e 5. ainda em gestação: afirmação do <i>altermundialismo </i>como movimento multiforme que amplia a ação política para além dos partidos e do poder político. Com quase 80 anos, Francisco Whitaker exala sua perene juventude ao falar do Fórum como “processo em marcha”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Basile Kossou. Infelizmente Basile já não pode estar em Dacar, cidade onde viveu em sua juventude como membro da equipe regional do Movimento Internacional dos Estudantes Católicos. Conheci-o quando na França estava concluindo sua tese de filosofia sobre a noção de SÈ, o que, dito em outras palavras significaria: reflexão sobre o sistema sociocultural dos FON, habitantes do sul de Dahomey.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Ele tinha então 25 anos. Era um jovem disponível à escuta. Um espírito dotado de fina maturidade filosófica. Dele recolhi, em 1969, uma entrevista publicada na revista VISPERA de Montevidéu. A análise que fez então da realidade africana aparece hoje de extraordinária atualidade. Faleceu há alguns anos quando animava em seu país um instituto ligado à UNESCO e relacionado à causa do desenvolvimento. Na entrevista, falou de sua Agbome natal, ex-capital de Dahomey, cidade museu cercada de fossas, acessada por meio de pontes levadiças como nos castelos medievais. Ao lembrar esse detalhe, comentou: “Quando existem fossas, é indispensável construir pontes”. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Conhecendo o seu espírito aberto ao diálogo, encerrei a apresentação da entrevista com estas palavras: “Talvez um dia se possa dizer de Kossou que foi um cidadão da África e que sua missão consistiu em erigir pontes entre o continente e o resto do mundo”. Hoje, se tivesse podido, ele se encontraria à vontade em Dacar para concordar com o Chico. Segundo o Chico, a aposta maior do Fórum Social Mundial é a de “construir um, duzentos, milhões de espaços de encontro. Em todas as suas variantes”.</div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">10/02/2011 </span></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-43376663727361746622011-03-23T11:29:00.000-07:002011-04-26T16:18:29.730-07:00PEDRA VERSUS PEDRA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH3FnGb9VHHntL3ohvWvAaQnBDWVsJm5auMI89J0EUFB0NrNRaQmoJm-OcG7_4vXZcM_etAjnRheoHaROxQQjaXO3wwUSRo_Q8eBZt1h9kudMjzWw7PuTJahQ3gAlXlWOPcqJypXceGw4/s1600/Xadrez.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH3FnGb9VHHntL3ohvWvAaQnBDWVsJm5auMI89J0EUFB0NrNRaQmoJm-OcG7_4vXZcM_etAjnRheoHaROxQQjaXO3wwUSRo_Q8eBZt1h9kudMjzWw7PuTJahQ3gAlXlWOPcqJypXceGw4/s400/Xadrez.JPG" width="400" /></a></div><br />
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<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O Clube de Xadrez de Aracati, coordenado por Laércio Rodrigues e Mateus de Freitas, desenvolve na escola Beni Carvalho, o projeto <i>“Xadrez na Escola: uma ferramenta pedagógica”. </i>O clube tem o apoio do diretor da escola, o professor Hélio Rodrigues, e conta com a parceria da FVJ mediante duas bolsas de estudos concedidas aos dois coordenadores que são alunos de Educação Física e Letras e atuam como monitores das aulas de xadrez. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O projeto tem por objetivo melhorar o desempenho escolar dos meninos, além de diminuir a repetência e a evasão. Visa também desenvolver neles habilidades múltiplas e moldar a evolução harmoniosa de suas potencialidades. As atividades são desenvolvidas ao longo da semana, em horários adequados, para alunos nas faixas etárias de 07 a 10 e de 11 a 17 anos de idade.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><span id="more-529"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Parâmetros de observação corretamente aplicados possibilitam avaliar o desempenho das crianças e adolescentes quanto ao nível de assimilação dos conhecimentos técnicos do enxadrísmo, assim como dos valores sócio-afetivos próprios do desenvolvimento da pessoa: assiduidade e pontualidade; solidariedade; responsabilidade; empenho e participação; autonomia; interesse; trabalho em equipe; raciocínio lógico-matemático, curiosidade científica; respeito pelas opiniões alheias; cumprimento das regras de convivência e segurança.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Por falar em convivência e segurança, foi possível constatar, em rápida conversa com alguns membros do Clube de Xadrez – Ivan Silvério, Cláudia Feitosa, Luis Feitosa, João José Monteiro Lima -, a importância que atribuem ao projeto Xadrez na Escola como fator de prevenção ao consumo de drogas por parte de crianças e adolescentes. Aracati, como outras cidades do interior cearense, assiste com apreensão o crescimento do consumo de crack, que se vende sob a forma de pedras.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O projeto oferece à escola algo de vivo capaz de opor-se às pedras da sustância química (crack) que confunde o espírito, amolece o corpo e distorce os gestos daqueles que a consomem. Contra as pedras de crack a escola propõe as peças de xadrez que podem ser chamadas pedras. Pedras que se articulam em um jogo inteligente e vital propício ao bom desenvolvimento da mente e da personalidade.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-16556326570739860472011-03-22T16:44:00.000-07:002011-04-26T16:19:51.164-07:00PRESENÇA DE DOM HELDER<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-pmKiXP6d2kEFkUFsmGpGxHI8yyQ17B1aZAUEEgI0UjLRkHxRJEG_fc2EDwrgLYiYkMSKsTe1Zqwf49OPAeQPcVXf0r1fipYAaOY9m3P48OGdF9uZCHZnO8JmFp3QujXoiwjTB2LLuzA/s1600/Dom%252BHelder.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-pmKiXP6d2kEFkUFsmGpGxHI8yyQ17B1aZAUEEgI0UjLRkHxRJEG_fc2EDwrgLYiYkMSKsTe1Zqwf49OPAeQPcVXf0r1fipYAaOY9m3P48OGdF9uZCHZnO8JmFp3QujXoiwjTB2LLuzA/s400/Dom%252BHelder.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Se vivo fosse, ele estaria completando 102 anos neste sete de fevereiro. Nascido em Fortaleza em 1909 e falecido em Recife aos 27 de agosto de 1999, Dom Helder Câmara teve uma vida marcada pela fome de libertação e a sede de justiça. Sua verdadeira pátria foi mais extensa do que seu país. Sua dimensão espiritual extrapolou as fronteiras humanas de sua igreja. Sua mensagem não se esgotou na repetição de obviedades. Era adepto da palavra falada. Sua voz pairou sobre o cenário do mundo. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Ele conseguia mover-se incólume no labirinto das contradições a que podem estar sujeitas as ações humanas mais generosas. E mostrar, com dados à mão, até que ponto os poderes são capazes de oprimir o homem, quando os projetos políticos escapam ao controle do homem e desencadeiam mecanismos destinados a perpetuar seu sacrifício. Ele tinha claro que a opressão não desfaz a consciência da liberdade e da justiça nem aniquila a força daqueles que lutam pela reconquista de ambas.<span id="more-1759"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Líder desenvolto no interior do aparelho eclesiástico, firmou-se como um dos arautos da inovação eclesial. Membro disciplinado de uma religião triunfalista, conseguiu inspirar a muitos o sonho de uma igreja servidora, comunidade de salvação. Com trânsito livre junto às elites e hierarquias, sabia como escavar o chão árido das estruturas dominantes para delas fazer jorrar uma fonte de vida. Nunca perdeu de vista os pobres. Para ele, pobreza não era abstração, mas a realidade concreta de seres em situação palpável de carência de quanto lhes é indispensável à própria sobrevivência.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Tinha consciência de não ser um teólogo, mas sabia como ninguém animar a reflexão teológica. Durante sua vibrante atuação nos corredores e adjacências do Concílio Vaticano II, nunca falou em plenário. Nas palestras, proferidas a convite, sua palavra, falada e escrita, sobretudo quando expressa em francês, era simples, despojada, sempre complementada por seus famosos gestos teatrais. <i>“Eu falava com as mãos”</i>, lembrou ele no livro <i>Les Conversations d’un Évêque</i>, elaborado a partir de diálogos com o jornalista francês José de Broucker.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Impossível esquecer duas cenas presenciadas por mim em 1974 a poucos dias uma da outra. A primeira em Friburgo, Suiça, quando lhe foi outorgada, no auditório da Universidade, a homenagem acadêmica de <i>doutor</i> <i>honoris causa. </i>Foi então muito aplaudido pelo <i>grand</i> <i>monde</i> do saber e da reflexão. A segunda em Bruxelas, durante almoço em barulhento restaurante popular. Quando o apresentador do jornal televisivo anunciou sua presença no estúdio para uma entrevista, o grande salão se fez silêncio e foi possível sentir a magia que sua palavra e sua imagem transmitiam a um público heterogêneo formado de comerciários, trabalhadores de pequenas oficinas e empregados de setores de serviços.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">De Dom Helder, quê mensagem destacar? Não sei se ele leu, e com que frequência, a obra de Albert Camus, o renomado escritor francês. Chego, porém, a imginá-lo atento em suas meditaçõs a este trecho dos <i>Carnets</i>: “O cristianismo é pessimista em relação ao homem e otimista quanto ao destino humano”. Como Camus, ele parece ter penetrado fundo na apreensão da condição humana. Mas, ao contrário do autor da Peste, que se dizia “pessimista quanto à condição humana e otimista quanto ao homem”, o Dom – como o chamavam os íntimos – era otimista em ambas as circunstâncias. Ele inspirou a ideia de que o homem, chamado a <i>transformar</i> o mundo, devia <i>transformar-se</i> a si mesmo. Era ativo. Propunha a criação de espaços individuais e coletivos nos quais a conquista da liberdade e da justiça se impusesse como tarefa inadiável.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Cumpre lembrar, enfim, que Dom Helder era ecumênico. Ele enxergava longe e via a todos como irmãos. A consciência da fraternidade, fundada na relação a um Pai comum, dispensava-o dos volteios acadêmicos e o levava a transmitir, com palavras simples, o vigor de suas intuições e de sua eloquência. Dom Helder tinha pressa. Pedia que, ao reconhecermos que somos irmãos, puséssemos em prática o exercício da solidariedade. Os meios para tanto não faltariam. E aos que murmuravam que a sua era a voz de quem clamava no deserto, ele respondeu com pequeno livro cheio de vida, publicado em fracês sob o título <i>Le Désert est fertile</i>. O Deserto é fértil.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-10081360167223256322011-03-22T16:39:00.000-07:002011-04-26T16:20:21.855-07:00A DERIVA DAS ÁGUAS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg04Zpw8Q8b7u0F3OSHAvBdkpLs9DUuKD6Aga-I-vupEFgOp-IcNJU3xcoaFT93jRphhwtmxLGmBeMvKv6DVYIBN59VP5QgKYffrmv6Y3bUWFlzwC2Ux2khdOVgCEN9lA61MpONZMEyQTs/s1600/rio-alagado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="246" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg04Zpw8Q8b7u0F3OSHAvBdkpLs9DUuKD6Aga-I-vupEFgOp-IcNJU3xcoaFT93jRphhwtmxLGmBeMvKv6DVYIBN59VP5QgKYffrmv6Y3bUWFlzwC2Ux2khdOVgCEN9lA61MpONZMEyQTs/s400/rio-alagado.jpg" width="400" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Há perguntas lançadas ao leu, não para suscitar esclarecimento, mas com o propósito de confundir. Tendo por pano de fundo a tragédia que se abate sobre o estado do Rio, FJ quer saber qual “o limite entre aproveitar os meios que a natureza põe à nossa disposição e o não abusar dela”. E logo acrescenta: “Como não considerar belas essas imagens da televisão que destacam o sumiço da paisagem, a destruição do ambiente, a erradicação da vida e de seu ordenamento?” </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Calma, FJ. Deixe ao interlocutor o tempo de assimilar o sentido de suas perguntas. E por favor tenha piedade, se não houver resposta ou se a resposta não lhe trouxer a satisfação desejada. Seu interlocutor também se interroga.<span id="more-1697"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">As imagens da tragédia. Você encara algo que, como dizem os latinos, <i>objacet</i>: está à sua frente. São imagens carregadas de realidade objetiva, como é carregada a nuvem antes de transmudar-se em chuva. É a imagem da casa, antes de a casa ruir. São imagens das casas antes de serem as casas arrastadas pelas árvores. E são as árvores e as casas antes de sucumbirem árvores e casas ao impulso da água e da terra e ao peso da própria massa. É a imagem refletida da massa pastosa que soterra os homens, as mulheres, as crianças e os bichos, todos feitos iguais na morte da vida, na noite da morte. É o porto inseguro da vida à deriva.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Ou seja, você mal viu a forma das coisas e já sofre o impacto dos destroços em movimento. Percebe que a casa já não é casa, mas algo em desmancho e desfiguração. O rio deixa de ser rio, espraia seu leito no eito das roças, nas ruas de casas. Não pede passagem. Adentra e invade. Destrói e inunda. As casas se abrem, eviscerando os pertences das famílias e eventrando as próprias famílias de suas dores, do seu sofrer. A paisagem também deixa de sê-lo, tornada desfazimento de tudo que – com a casa, o rio, a roça, a rua e demais coisas da vida – se esvai.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Dentro de você – além do que vê, aquém talvez do que mensura – algo o incomoda, que não é mera imagem. Será medo, compaixão? Ou a impregnação resultante do vínculo que se estabelece entre aquele que vê (sujeito – subjetivo) e aquilo que é visto (objeto – objetivo)? Os filósofos mexem e remexem esses vínculos na tentativa de extraírem valores das entranhas da tragédia.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Valores: aspectos prenhes de sentido, força e fecundidade que vinculam não só os termos do olhar (aquele que vê àquilo que é visto), mas presidem a própria ação criadora dos vínculos. Você deve, pois, ser você, na montagem da relação solidária com os outros <i>e tudo o mais</i>, como a aranha é aranha no emaranhado da teia vinculante.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">O homem, ao estabelecer-se como tal, deve escapar ao distanciamento do olhar objetivo e abrir-se ao acolhimento da identidade do outro e da intersubjetividade: influências mútuas, experiências recíprocas. O espanhol repetiu à exaustão: “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Nesta sofrida circunstância fluminense tocada pela mão súbita da natureza sobre o cenário histórico construído lentamente pelas mãos de humanos, somos todos chamados a recompor os vínculos, a repensar os trajetos, a repaginar o quadro de nosso existir no espaço de uma natureza que precisa com urgência ser mais bem conhecida e respeitada.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">As dúvidas de FJ certamente me acompanharão por mais um pouco. Elas afloram a cada cena ou comentário da televisão. Impossível não ficar atento às análises dos peritos em diferentes saberes. Impossível também não sentir um quê de <i>déjà vu </i> nas críticas repisadas quanto ao passado e nas promessas quanto ao futuro. Essa tragédia nos diz que vivemos em um país de extremada pobreza política: a política sendo indispensável à promoção de razoável equilíbrio da vida em comum.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Conhecemos mal as questões ambientais. Pouco sabemos como articular a integração dos sistemas e das espécies da natureza. Uma nossa cultura antropocêntrica de apropriação predatória dos bens naturais expõe a nossa condição humana a ameaças constantes tanto nas áreas rurais quanto em meio urbano. Sem insistir na crônica anunciada das tragédias sazonais, somos entregues à ditadura constante de uma infraestrutura destroçada e do automóvel, que, com incrível regularidade, desfiguram a paisagem, paralisam a mobilidade, ceifam vidas. Enquanto a vida, com renovada teimosia, insiste em pulsar, tangida a distância pela luz bruxuleante de uma estrela.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-44021332125835341492011-03-22T16:26:00.000-07:002011-04-26T16:20:49.288-07:00IVAN ILLICH - PROFETA OU SONHADOR?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhQzF3l7A48oSQEbHt5iymUGYEBlbbSHn_OlFy4AQguLpirh2t-3rovPMzQWgz99SP1tzCQZOAFONpqlQmf4jrlJ5x29mtYQcGHtRb243f9TeruzAjtSYvB7TIaEhRfz-fjzUEGcSe60/s1600/Ivan-Ilick.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhQzF3l7A48oSQEbHt5iymUGYEBlbbSHn_OlFy4AQguLpirh2t-3rovPMzQWgz99SP1tzCQZOAFONpqlQmf4jrlJ5x29mtYQcGHtRb243f9TeruzAjtSYvB7TIaEhRfz-fjzUEGcSe60/s1600/Ivan-Ilick.jpg" width="270" /></a></div><br />
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<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Deparo, por acaso, com um texto de março de 1974 rascunhado no trem entre Paris e Friburgo na Suíça. É o resumo de um debate organizado pelo Centro Católico de Intelectuais Franceses em torno do pensador e animador cultural Ivan Illich, um dos fundadores do Centro de Informação e Documentação – CIDOC, de Cuernavaca (México). </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
As iniciativas do CIDOC interagiam com outras tantas, desenvolvidas mais ou menos informalmente, na ambiência conciliar e pós-conciliar e no espírito de maio 68. Assistia-se, então, a algo como a emergência dos conteúdos de uma universidade aberta ou, como se diria hoje, dos componentes de uma rede virtual.<span id="more-1725"></span></div><div></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Illich, nascido em Viena em 1926, filho de pai jugoslavo e mãe de ascendência judia, faleceu em Bremen (Alemanha), em 2002. Seu nome parece atualmente um tanto esquecido. Mas é possível que a aparência engane. Uma rápida busca na internet possibilita constatar que sua mensagem ainda inspira inúmeros grupos de estudos, seminários, publicações e outras atividades interculturais. Sua reflexão continua bem acolhida junto àqueles que se ocupam de políticas públicas, notadamente das questões educacionais.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Em 1974, embora seu ideário se afinasse bastante com o de outros pensadores (Hans Küng, Gustavo Gutierrez, Helder Câmara, Paulo Freire, Tissa Balassuryia…), foi sobre ele que recaiu a atenção de um jornal francês: “ou se trata de um inofensivo ilusionista a ser esquecido ou de um profeta cujas idéias merecem ser examinadas de perto”. O ambiente europeu de então propendia para a segunda hipótese. A prová-lo, o êxito da venda de seus livros e a afluência de pessoas (mais de 400) presentes ao debate daquela noite em Paris.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Como debatedores, destacavam-se duas figuras conhecidas na cena pública francesa. Por um lado, o jornalista e escritor Jean-Marie Domenach, membro da resistência durante a segunda guerra e até sua morte (1997), redator da revista Esprit, fundada pelo filósofo Emmanuel Mounier. Por outro, o político Jacques Delors, membro do Partido Socialista, ministro da economia, presidente da Comissão Européia durante 10 anos (por indicação de François Mitterrand e Helmuth Kohl), lembrado por ter sido autor e coordenador do relatório para a UNESCO sobre a Educação para o século XXI, intitulado “Educação, um tesouro a descobrir”, que expõe os famosos “Quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser”.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Guardo os traços fisionômicos de Illich: olhar arguto, rosto enxuto, sorriso cáustico, mímica dramática. Sua voz bate sem piedade no modelo socioeconômico dominante nas sociedades desenvolvidas. Modelo que ele considera fadado a não durar no tempo nem a se expandir no espaço. Trata-se, segundo ele, de um modelo doente, afetado não apenas por fatores externos, mas por seu dinamismo interno centrado na busca de progresso e crescimento. Nem é o caso, em sua opinião, de imaginar um novo tipo de expansão, como sugerem alguns espíritos igualmente argutos, para os quais o crescimento constitui um dado irrefragável.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Illich é radical. Não crê que o progresso traga consigo o “melhor”. Afirma, ao contrário, ser ele portador de frustações, desgastes e coações cada dia menos suportáveis. A seu ver, a dinâmica do crescimento seria impulsionada por sofisticados mecanismos que escapam ao controle do homem e até o dominam. O excesso de produção, por exemplo, leva à “contraprodutividade” que acentua o desperdício de bens e, não raro, manifesta até a inutilidade dos conhecimentos acumulados. Diante disso, torna-se de ética urgência reconsiderar as necessidades produzidas artificialmente e identificar uma maneira nova de atender a demandas surgidas no quadro de autêntica dimensão humana.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Sem dúvida, Ivan Illich situa-se na linha dos utópicos. Mas a sua utopia não é normativa. Ele mesmo declara: “eu não proponho uma utopia normativa”. Ele é um profeta, e como tal, não mostra o caminho. Diagnostica rigorosamente o mal, mas não propõe o remédio com a mesma nitidez. Não diz como as coisas devem ser. Limita-se a desvendar a necessidade e a possibilidade de as pessoas e os grupos, no exercício de sua autonomia, reinventarem os meios de enfrentar os problemas que ele descreve. Tangido por essa convicção, passa ao largo dos termos tradicionais da luta social. Ou da luta de classes.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Como lhe parece difícil sobreviver numa sociedade marcada por muitas e profundas desigualdades, ele apela para a “convivialidade”, o contrário da produtividade industrial e que não pode existir sem que o homem controle os meios de produção, em vês de ser por eles dominado. Uma sociedade “convivial” é a que oferece condições para a existência da liberdade concretizada mediante a utilização de instrumentos eficazes de ação.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Como explicar a atração exercida por Illich na Europa de então? É bem provável que sua mensagem incidisse sobre a consciência de uma sociedade opulenta no momento em que começava a sentir na própria carne enferma os limites do crescimento. Era como se houvesse uma conivência entre as suas idéias sobre a sociedade e as inquietações desta última: sentimentos de saturação, perda de sentido, falta de autonomia. Illich tinha o dom de descobrir a enfermidade com uma precisão tal que o enfermo se reconhecia de bom grado em seu diagnóstico.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
(<i>Era propósito desta nota comentar o impacto do pensamento de Illich sobre algumas instituições da sociedade, notadamente a educação. Em virtude da limitação de espaço, permita-me o eventual leitor voltar ao assunto oportunamente. JR) </i></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-32360491504122614852011-03-22T16:21:00.000-07:002011-04-26T16:21:18.477-07:00AO LONGO DA ESTRADA EM DUPLICAÇÃO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEu5kSVxu6H4iaZzTkJZt1fGdb_mtUASp3zbyW09TP3bxyhco5ydEGbc6Y7dE4IM9oo8rm6DhjBFJXCnk8UbdLFzRZEe8E1P1ajHbxj-jm3RomsxmIsRaA4v1rn-fIfe3hUskwM2TWRns/s1600/CE_040.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEu5kSVxu6H4iaZzTkJZt1fGdb_mtUASp3zbyW09TP3bxyhco5ydEGbc6Y7dE4IM9oo8rm6DhjBFJXCnk8UbdLFzRZEe8E1P1ajHbxj-jm3RomsxmIsRaA4v1rn-fIfe3hUskwM2TWRns/s400/CE_040.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Ontem choveu muito em Fortaleza. Hoje a paisagem permanece nublada ao longo do trajeto que leva a Aracati. Acompanham-me dois professores que devem participar de uma reunião na Faculdade do Vale do Jaguaribe. A estrada se encontra em processo de duplicação. Os professores me interrogam sobre o impacto das obras na vida cotidiana das comunidades ribeirinhas. Proponho-lhes ouvir ao longo da estrada a palavra de algumas pessoas conhecidas.</span></div><br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><span id="more-1684"></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Uma palavra da gente do César Ribeiro, dono do engenho <i>Cana dá.</i> Ali se fala em transformar, com os recursos da desapropriação, o rústico engenho atual em um parque temático centrado no mel e em seus derivados.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Uma palavra do bom amigo Tarcisio Holanda – herdeiro de renomada família pindoretamense – replantado no sítio <i>Terra Sã, </i>onde, entre frutas e outras tapiocas, prepara suculentos quebra-jejuns.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">É difícil encontrar o Pedro Colaço para ouvi-lo sobre a idéia que o levou a montar um restaurante em Beberibe, como fator de integração da carne de avestruz ao paladar cearense. A pergunta a fazer-lhe seria: “Em que pé se encontra o projeto?”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Em outras paradas, o assunto é mais diretamente a estrada e as vicissitudes da reforma: por quê estes e não outros traçados; quem lucrou e quem perdeu no carteado das desapropriações; atrasos previstos e avanços imprevistos; o tempo necessário para absorver culturalmente as novas referências surgidas na paisagem. Tarcisio Holanda, otimista, considera o lado bom da duplicação: </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">“Desde que”, diz ele, “se invista pesado na formação cultural e profissional da moçada desses municípios”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">“Formação da moçada”. Não tem sido outro o sonho da FVJ que se pergunta diariamente sobre as perspectivas do desenvolvimento sustentável da área geopolítica em que está inserida: os municípios da faixa litorânea leste, os municípios ao longo do baixo e médio jaguaribe, sem esquecer cidades do vizinho estado do Rio Grande do Norte. Sua primeira preocupação tem sido dar consistência aos onze cursos já aprovados pelo MEC, todos eles na modalidade presencial. Ao mesmo tempo a faculdade percebe que para atender a “moçada” disseminada ao longo de muitas estradas será indispensável recorrer ao instrumental da educação a distância, modalidade de ensino que está ganhando volume e sentido nos vários pontos do país.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Muito já foi feito para adequar as condições operacionais da faculdade às múltiplas exigências da educação a distância. Um grupo especifico de professores já recebeu capacitação para que, chegado o momento, façam a transição harmoniosa da modalidade presencial à modalidade a distância. A faculdade está planejando também a estrutura necessária em pontos estratégicos do estado para facilitar o acesso dos alunos aos momentos presenciais obrigatórios.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Seminários têm facilitado a compreensão das características didático-pedagógicas da EAD que não a distanciam das melhores características do bom ensino presencial. O curso a distância não é necessariamente melhor ou mais rápido do que o presencial. Mas na EAD algumas conquistas são bastante nítidas: a flexibilidade que permite ao aluno conciliar seus compromissos profissionais e pessoais com as disciplinas em estudo; a organização do tempo que lhe facilita realizar as atividades acadêmicas no ritmo proposto pela instituição e em sintonia com a orientação dos professores e monitores e a autonomia que constitui a meta fundamental de todo processo pedagógico em qualquer modalidade de ensino e aprendizagem.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Enfim, é possível fazer uma analogia entre a estrada litorânea em duplicação e o projeto a distância da faculdade. A primeira visa agilizar as condições do tráfego, conferindo-lhe sentido duplo, segurança, comodidade e ganho de tempo. O segundo busca fazer chegar às pessoas e às comunidades em situação de distanciamento os serviços educacionais de modo organizado e em calendário adequado. Em ambos os casos, ampliam-se o desfazimento dos gargalos, a superação dos bloqueios e sobretudo a capilaridade da interação humana. Fica mais fácil inclusive melhor entender o conceito de educação. </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Como sugere a faculdade, educar não se restringe à idéia mecanicista de “formar para o trabalho”. Consiste em promover o amadurecimento dos indivíduos em seus laços comunitários tornando-os capazes de intervir em situações práticas da vida, resolver problemas locais, produzir conhecimentos e valorizar os vínculos e as manifestações culturais. Um dos professores observou: “É, o Tarcisio teve razão quando falou em formação <i>cultural e profissional</i> da rapaziada”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-12961784525047360142011-03-22T14:26:00.000-07:002011-04-26T16:21:53.496-07:00EDUCAR E CUIDAR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Cbp3GXuiH7ZphF9w47qrtaU0SLT_dBRGYDUH7Kg3aFXcCXW9jAl2dBEFYzEzBWyo-3hnRTSzMeQBRCqkx-UWjRH3DStTXy0Y_S798CUyyQwdPotZ-DN6WeA7ebIujpk1wesyByO2K2E/s1600/BARRA%252BTABATINGA%252BNATAL%252BRN.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Cbp3GXuiH7ZphF9w47qrtaU0SLT_dBRGYDUH7Kg3aFXcCXW9jAl2dBEFYzEzBWyo-3hnRTSzMeQBRCqkx-UWjRH3DStTXy0Y_S798CUyyQwdPotZ-DN6WeA7ebIujpk1wesyByO2K2E/s400/BARRA%252BTABATINGA%252BNATAL%252BRN.jpg" width="400" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Estamos em Natal (RN), minha mulher e eu, para um compromisso familiar. A estada seria breve, restrita ao que estava programado. Ocorre que, mal chegamos, fomos informados da presença de Edgar Morin e Leonardo Boff, vindos um e outro à cidade para compartilharem com setores da sociedade local, em dois eventos distintos, reflexões amadurecidas ao longo de suas trajetórias. Morin falará na praça cívica da Universidade Federal sobre “o destino da humanidade”. Muito a propósito, Boff desenvolverá, em um encontro do conselho de enfermagem, o tema “ética e cuidado”. Como ficar indiferente ao que dirão essas duas figuras missionárias imbuídas da tarefa de tentar salvar o mundo?<span id="more-1643"></span> </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Os dois têm em suas biografias pontos de convergência. Ambos renunciaram a parcelas dos próprios nomes para assumirem “codinomes”. Edgar era Hahoum, passou a ser Morin quando se envolveu com a resistência francesa durante a segunda guerra. O nome de batismo de Boff era Genésio Darci. Adotou Leonardo ao tornar-se franciscano. Ambos escreveram muitos livros.. Um e outro tiveram graves desentendimentos com suas instituições de pertença. Morin foi excluído do Partido Comunista Francês (1951), em decorrência de suas posições antistanilistas. Boff foi coagido pelo vaticano a um ano de “obsequioso silêncio” (1985) em virtude das idéias defendidas no livro Igreja, Carisma e Poder. Uma diferença entre eles. Morin declara-se ateu, embora reconheça ter seus momentos místicos. Leonardo, ao completar 70 anos, se diz “velho, cristão, franciscano, teólogo e um homem”. Chega mesmo, em linguagem simbólica, a confessar-se “por participação” Deus. Nunca deixou a igreja, embora tenha renunciado à função de padre. Descreve, em um poema, a experiência íntima de um grande vazio: “o vazio é Deus em meu ser”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Morin firma-se no cenário cultural como um grande pensador. É o teórico maior do pensamento complexo. Sua missão: contribuir para desenvolver o pensamento humano através da “dialógica”. Trata-se de ensinar a assumir “a compreensão das idéias contrárias sem a necessidade da exclusão”. Para tanto atribui à ação educativa, em plano mundial, sete tarefas que a falta de espaço mal permite resumir: 1. não excluir o erro do processo de aprendizagem, mas valorizá-lo como fator que faz avançar o conhecimento; 2. evitar a fragmentação da aprendizagem mediante a articulação das variadas áreas de conhecimento, pondo em evidência o contexto e o global, o multidimensional e o complexo. Este último costura a ligação entre a unidade e a multiplicidade; 3. ensinar a condição humana em suas dimensões psíquica, física, mística; biológica…; 4. demonstrar que a terra é um pequeno planeta a ser sustentado a qualquer custo; 5. valorizar o principio da incerteza: fazer ciência tendo claro que existem coisas incertas; 6. ensinar que a comunicação humana deve estar voltada para a compreensão; 7. ensinar que o saber-ética do gênero humano e sua compreensão complexa ancora-se em três dimensões: autonomia individual, participação comunitária, sentimento de pertença à espécie humana.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Boff, teólogo da libertação, tem-se dedicado nas ultimas décadas a diversos campos da ciência moderna, cabendo destacar sua preocupação com as questões da terra, na perspectiva da Ecologia. Considera que a terra está doente, afetada pelo aquecimento global, pelos rios que secam e por florestas que se destroem. Chega a prever que cerca de 3000 espécies vegetais e animais do globo desaparecem anualmente. Nada impede que a espécie humana também venha a desaparecer. Essa perspectiva confere amplo e diversificado alcance à palavra “cuidar”. Sobretudo em se tratando da dimensão ética da ação profissional de enfermeiros e outros operadores da saúde que lidam com o bem estar dos homens e das mulheres expostos todos eles aos riscos da enfermidade e da morte.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Do andar do edifício em que me encontro, e onde chegou a notícia da presença dos dois na cidade, tem-se uma vista generosa de Natal. A vegetação um tanto rasteira gruda-se ao relevo dos morros que levantam barreiras entre o mar e os aglomerados urbanos. As moradias horizontalizadas assistem com certa complacência à invasão dos prédios verticais. Longas avenidas acolhem o surgimento do comércio e serviços que dão as boas-vindas ao fervilhar crescente dos veículos. A outrora pacata Natal, bafejada pela suavidade de uma brisa constante e tida como capital menos violenta do país, entrega-se à complexidade de sua elevada densidade demográfica, ao congestionamento motorizado e a outras complexidades portadas pelo crescimento econômico e pelo fluxo turístico. As pessoas precisam aprender a conviver com a complexidade, daí resultante, a assimilar o contraditório e a estender sua mão cuidadosa aos semelhantes. O apelo aos sete saberes e ao aprimoramento ético do cuidado trazidos por Morin e Boff chega em boa hora à cidade.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-67903683074047880182011-03-22T14:16:00.000-07:002011-04-26T16:22:30.147-07:00MERGULHO NA ESPERANÇA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ0culvkfgq6JhjvyZ591mgIjfqk76oZxWVBgWs-djCIbQ1KiHpN5dxt7ZQKw1lQutTQRILTimgEpizCY4IS3bm2k-Mj4FM6O44Q6IYJKzsBSjwSd7Kv7RqX36iPQ2xUsyV0eRtF7k7NU/s1600/BANGKOK.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ0culvkfgq6JhjvyZ591mgIjfqk76oZxWVBgWs-djCIbQ1KiHpN5dxt7ZQKw1lQutTQRILTimgEpizCY4IS3bm2k-Mj4FM6O44Q6IYJKzsBSjwSd7Kv7RqX36iPQ2xUsyV0eRtF7k7NU/s400/BANGKOK.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">“Só pode considerar-se viajante de verdade aquele que viaja em busca de si mesmo”. Esta frase de efeito me foi dita por um italiano que acabara de chegar a Roma, de retorno dos Estados Unidos onde não tinha conseguido “fare l`América” (ganhar a vida). A frase me voltou à mente em Bankok durante um passeio de barco a uma área rural, com parada num templo budista. No átrio, um encantador de serpentes adestrava uma naja, a cobra que dilata o pescoço quando enfurecida. À entrada do templo, uma estátua do Buda e, a seu lado, envolto em fumaça de incenso e cigarro, um velho monge. Do Buda de pedra ou do monge de carne esperava resposta a uma interrogação que então me perseguia. O Buda e o bonzo semi-sorriam, semi-dormiam na postura de quem não estava ali para responder a perguntas. O bonzo recebeu, com visível gula, o cigarro (</span><i style="font-family: Verdana,sans-serif;">une gauloise</i><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">) que Claude lhe estendeu. Mas como me explicaria mais tarde Yuengyong, seria preciso ter paciência e tempo para dialogar com o bonzo. Ou com o Buda.</span><span id="more-1606" style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span> </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Tempo não havia. Uma ameaça de temporal sugeriu antecipar a volta ao barco e retomar, rio adentro, o rumo da cidade. Uns meninos, de corpo magro e olhar vivo, nadavam entre as embarcações. Com trêfega insistência, pediam moedas que recebiam com a mão e levavam à boca como ágeis peixes vorazes. “É a vida”, murmurou a professora de distante ascendência portuguesa que nos acompanhava. À noite, no instituto jesuíta onde estávamos hospedados, voltaram-me à memória as cenas do passeio e a imagem de outro monge, também ele budista, procedente do Tibet. Encontrei-o na Alemanha durante um colóquio no recém-criado Instituto Técnico de Bochum. O que deveria ser breve troca de idéias no restaurante dos estudantes transformou-se em uma conversa sobre a pessoa do Buda e o budismo.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
O jovem monge explicou como Siddarta Gautama, o Buda, preocupado com o sofrimento humano, tornou-se um asceta errante, que pretendia promover a realização plena do ser humano e a construção da paz na sociedade. Percorrendo a pé longas distâncias, sob o sol ou sob a chuva, sobre a neve ou sobre pedras, manteve uma atitude de abertura aos grupos sociais, às etnias, às culturas e às nacionalidades os mais diversos. Expôs também a doutrina filosófica do budismo fundada nas chamadas três marcas: a impermanência, a insubstancialidade, o nirvana. A impermanência traz consigo a idéia de que nada é perene; que os fenômenos são efêmeros e estão em contínua transformação. A insubstancialidade indica que tudo resulta de mera soma de agregados, não existindo, por exemplo, um núcleo estável que dê sustentação ao conceito de natureza. O desconhecimento das marcas leva o homem a apegar-se a aspectos passageiros da existência; à ilusão de um “eu” permanente transformado em centro de aspirações egoístas, assim como à frustração, à angústia e ao sofrimento. O nirvana seria o estágio de superação das marcas anteriores. Manifesta-se quando o homem compreende a impermanência e a insubstancialidade, libertando-se de suas construções ilusórias e egoístas e tomando consciência de que sua natureza é idêntica à natureza de todas as coisas.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Não sei. Ao recordar, a anos de distância, o passeio ao templo, a cobra naja, o bonzo, o Buda, os meninos peixes,a conversa com o monge na Alemanha, dou-me conta do quanto é difícil encontrar resposta precisa a dúvida tão vaga. Depois da estada em Bangkok visitei, perto de Djakarta, um misto de jardim botânico e parque paleontológico em plena selva indonésia. Mais do que uma visita, foi uma iniciação cósmica à vida, um mergulho na floresta, um retorno à origem das coisas: ao fogo, à água, à terra, aos bichos,ao homem, sem perceber solução de continuidade de um a outro elemento. Quanta origem, quanta luta, quanto saber no rosto múltiplo do homem, em sua plural atividade: caça, pesca, colheita, plantio, canto, dança, teatro de sombra, templos e rituais dos deuses de Deus. O cuidado posto na construção do casarão sombrio, no fabrico e manuseio das armas e das canoas, a intimidade com o cão domesticado. Senti que o tempo não impunha lonjura em relação ao homem mais remoto da ilha mais remota, como já não havia distância em relação à mulher do pescador de Sri Lanka no mergulho à origem das coisas e de mim.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Mesmo assim persistia a dúvida. Com a dúvida, crescia a curiosidade de entender melhor a identificação feita pelo Buda entre a natureza de todas as coisas e a natureza do homem. O que me preocupava era saber que, à entrada do templo, o Buda não falou, nem tampouco falou o bonzo a seu lado. Diante de tamanho silêncio na vastidão do mundo percorrido, um tênue fio de esperança me estimulava a não desistir do caminho. A prosseguir a viagem. A ter presente a palavra de um chinês de quem ouvi que “ a estrada mais curta de si para si passa pelo mundo inteiro”.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Dezembro 2010</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-91631672359502344062011-03-22T14:03:00.000-07:002011-04-26T16:23:13.428-07:00EM BUSCA DA INCLUSÃO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuplun94Wx_FO8koY_J-SjNn6N2mOWHpITwjaVBK7oOjGaYsTbgUoRsng9oTadNgSO8gJjYD6E6MwsdxFOLhjrH8fytiQXTsCIqJyGTBsCCO-HtShcsRjgGAf20pBBVANazfAdG_nCBqU/s1600/%25C3%25A1sia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuplun94Wx_FO8koY_J-SjNn6N2mOWHpITwjaVBK7oOjGaYsTbgUoRsng9oTadNgSO8gJjYD6E6MwsdxFOLhjrH8fytiQXTsCIqJyGTBsCCO-HtShcsRjgGAf20pBBVANazfAdG_nCBqU/s400/%25C3%25A1sia.jpg" width="400" /></a></div><br />
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<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Entre a praia e o casarão em ruína, cresceu em mim a percepção do dilema que me acompanhava: </span><i style="font-family: Verdana,sans-serif;">conhecer, não conhecer a Ásia</i><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">. As leituras da juventude sobre a natureza e a história do continente; as marcas das culturas e religiões mais antigas; a convivência com asiáticos na Europa, tudo isso alimentava o interesse em saber mais sobre “esse mundo, vasto mundo”. É verdade que nunca perdi a consciência de meus limites em face do incomensurável da Ásia: o longínquo de suas distâncias, a imprevisibilidade de seus códigos. Mas, por outro lado, soube manter viva a curiosidade em relação aos grandes eventos que a têm sacudido: a revolução cultural da China, a guerra do Vietnã, a não-violência ativa na Índia. E outros, muitos outros.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> </span><span id="more-1572" style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span> </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Daí a viva sensação de <i>melting pot</i> que me possuiu ao adentrar, naquela manhã de agosto, o instituto “Center for Society and Religions”, de cuja fundação já me falara Balasuriya em contatos mantidos na Europa, inclusive em minha residência em Fribourg (Suiça). Tissa deixava transparecer o quanto era sensível às desigualdades presentes em diferentes contextos sociais. Expunha com rigor e vigor as contradições existentes na Ásia, em Sri Lanka e no quadro das relações internacionais. Não era segredo que suas posições teológicas suscitavam restrições nos meios conservadores, nem posso esquecer a polêmica decorrente de uma entrevista concedida a Phyllis Wassmer sobre a questão populacional, que me coube editar na revista Convergence, de Pax Romana – MIIC. Era impossível não admirar a coerência de suas posições e a determinação com que tocava adiante as suas idéias (<i>Idéias que viriam mais tarde a custar-lhe bastante caro</i>).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Balasuriya era, a seu modo, um provocador. A prova, naquela manhã, não estava longe. Estava ali no planisfério afixado à parede atrás de sua mesa de trabalho. Nele, a Ásia aparecia ao centro da figuração geográfica do planeta, ficando a Europa e as Américas à esquerda e à direita. Um choque para qualquer ocidental habituado à imagem cansativa da <i>Europa-centro-do-mundo-e-das-coisas</i>. Contemplar aquele redesenho gráfico da terra não só afetou o meu imaginário, mas me predispôs à escuta em relação ao que diriam os interlocutores ceilonêses, alguns dos quais haviam participado de um encontro realizado em Singapura. Mais que um provocador, Balasuriya era também (<i>e continua sendo</i>) um líder ecumênico. Em sua fala de abertura da reunião, lembrou que a divisão das pessoas e dos grupos, na sociedade ou na Igreja, resultava mais das pertenças políticas do que das opções religiosas. Coube a Victor Gunevardena, um dos membros do instituto, apresentar, numa visão de conjunto, breve síntese da situação dos dozes países representados no encontro de Singapura. Naquele então, já se percebia que Japão, Austrália e Nova Zelândia eram vistos com algum distanciamento pelos demais países, em razão certamente de seus respectivos níveis de desenvolvimento, industrialização e riqueza. Hong Kong ainda era colônia, mas ali já se vislumbrava a perspectiva da próxima independência. Nas Filipinas, vigorava uma lei marcial. A Tailândia acabara de romper com vinte anos de regime militar e era administrada por um governo provisório. Singapura, praticamente entregue a um partido único.<br />
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Indonésia sob as botas de um general. Bengladesh, esvaído pela guerra de libertação, ficara marcado pela carência de recursos materiais e humanos. Só a Índia e a Malásia gozavam naquele momento de relativa estabilidade política.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Das intervenções de uns e de outros emergiu, durante o debate, o cenário das desigualdades no quadro das relações internacionais. Foi lembrado que as populações da China, da Índia e do Japão, ou seja, 40% da humanidade estavam confinadas em 10% da superfície da terra. Os habitantes do Canadá, da Austrália, da Nova Zelândia – 1% da população mundial – possuíam a mesma proporção de terra que os chineses, os indianos e os japoneses. Entre 1957 e 1967, o aumento do consumo de aço em kg, por habitante/ano, foi de 568 a 637 nos EUA e de 9,12 a 13 na Índia. Em média um norte-americano exercia sobre o meio-ambiente maior devastação do que 25 habitantes da Índia. Se se representasse a população americana em padrão de vida indiana, os EUA deveriam ter quase cinco bilhões de habitantes. E a cada ano, os termos dessa relação tendiam a piorar, piorar.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Deu-se particular atenção ao exame das condições de vida das massas rurais. Os camponeses respondiam, com o seu trabalho, por grande volume da produção agrícola, mas suas famílias eram fragilizadas pela debilidade das políticas públicas nas áreas de nutrição, saúde, moradia, educação e salários. Tratando-se de Sri Lanka, impossível não fazer referência ao chá. O chá ceilonês é produzido, sobretudo no planalto central, onde fica Kandy, capital do antigo Reino, lá onde também se encontra o célebre pagode do Dente de Buda. A população do campo e suas dificuldades apareciam como desafio prioritário para os intelectuais do país, assim como para aqueles de orientação cristã. Balasuriya insistira sobre o fato de que a estes cabia o papel não de conformar a consciência dos pobres ao molde e aos vexames da pobreza, mas de reconhecê-los como seres humanos capazes de envolver-se com a construção de uma sociedade marcada pelos valores da justiça e da igualdade. Os intelectuais e profissionais presentes encerraram a reunião com a retomada da autocrítica feita em Singapura: a sua pertença às elites dirigentes do país e a necessidade de comprometimento com a luta dos pobres. O grupo retomou também os termos de seu compromisso: o de não fechar-se em uma organização reclusa; o de abrir-se aos excluídos e buscar com eles o caminho da inclusão e do desenvolvimento integrado e sustentável.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;"><br />
Essa reflexão me parecera então conter algo de premonitório em relação aos caminhos do futuro na Ásia.</div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7302648888292214186.post-25449381074912555942011-03-22T13:57:00.000-07:002011-04-26T16:23:42.399-07:00PÔR-DO-SOL EM SRI LANKA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFS5xi-RuamRlAliHelptrJXYJLy473t2a663ElbntFkwhDdmx7joFEdtWcN0X9uxB0HZeashpwMlB7yaLwBBAkMroJBi1AJHL0RJDgnXeRqHSLnYEf3TIfxDDVSGjJuVawiMTiMO32UY/s1600/por%252Bdo%252Bsol_Sri%252BLanka.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFS5xi-RuamRlAliHelptrJXYJLy473t2a663ElbntFkwhDdmx7joFEdtWcN0X9uxB0HZeashpwMlB7yaLwBBAkMroJBi1AJHL0RJDgnXeRqHSLnYEf3TIfxDDVSGjJuVawiMTiMO32UY/s400/por%252Bdo%252Bsol_Sri%252BLanka.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A vida flui ao ritmo do tempo, deixando à memória a tarefa de registrar detalhes que, ao refluírem, recompõem traços de situações vivenciadas, Deus sabe onde e quando. Houve um dia, ou melhor dizendo, um cair do dia, sob coqueirais, junto a um mar distante, no mês de agosto de 1974… Vindos de Singapura, Claude e eu fomos recebidos em Colombo, capital de Sri Lanka, por Tissa Balasuriya, sacerdote católico, dirigente do instituto Center for Society and Religion dedicado a questões do desenvolvimento humano. Voltávamos de longa viagem à Ásia que culminara, em Singapura, com um encontro inter-cultural organizado pelo Movimento Internacional de Intelectuais Católicos – seção profissional de Pax Romana – sediado em Fribourg (Suiça), presidido pelo matemático Claude Picard, professor da Universidade de Paris. Eu era então secretário-geral do citado movimento.</span><br />
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<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Do aeroporto, fomos conduzidos a uma pensão modesta situada em bairro recuado em relação ao mar. O cansaço da viagem não nos permitiu prolongar a noite. Mas a curiosidade não impediu de levantar-me com a aurora e sair pelas ruas do entorno a dar bom-dia à gente humilde que se preparava para iniciar a jornada. Em frente a deteriorada igreja anglicana, a mulher magra e idosa pediu com gestos que a fotografasse. Fotografei também o rapaz que tomava banho à frente de casa. As rodas de lento carro de boi rangiam áspero no leito da rua deserta de automóveis. Uma das fotos mostra, por cima do carro de boi, a revoada de corvos grasnando feio na manhã mormacenta. Depois das fotos, retorno à pensão para frugal café da manhã e ida ao instituto para encontrar, em conversa prolongada, Tissa e vários intelectuais e profissionais de orientação cristã. Muito foi dito então sobre aspectos econômicos, culturais, políticos e religiosos da realidade do país. Deles falarei oportunamente à luz de algumas anotações tomadas.</span><br />
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<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">No meio da tarde, partimos em esquálido carro de aluguel para conhecer uma aldeia de pescadores, a cerca de 30 km de Colombo. Antes de chegar aos pescadores, fomos apresentados, no centro da aldeia, a um grupo de estudantes reunidos no alpendre de um casarão colonial em ruína.</span><br />
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<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O grupo, formado de jovens de Colombo em ruptura com o estilo de vida burguês de suas famílias, tentava estruturar o roteiro de uma pesquisa-ação sobre as condições de vida e trabalho dos pescadores e suas famílias. Depois de nos servirem, em quengas de coco, um chá muito forte, os estudantes, marcados pela forte influência de Balasuriya, detiveram-se na descrição das condições sociais de Sri Lanka, dando ênfase a seu produto mais importante de sua economia: o chá. “Do chá, disse um dos jovens, vive e morre Sri Lanka. Quarenta anos atrás, o país detinha uma das mais altas rendas do chamado terceiro mundo. Hoje se encontra entre as nações mais desfavorecidas.” Outros disseram que os trabalhadores das grandes empresas, especialmente aqueles de origem tâmil, sobreviviam em inóspitas edificações alinhadas horizontalmente, sem aeração, nem iluminação, expostos à lama, umidade, verminose, tuberculose, álcool – um álcool produzido à base de coco, altamente corrosivo. Os homens ganham, mal e mal, meio dólar por dia. As mulheres e as crianças, menos ainda. “Meio dólar, interveio Tissa, é quanto custa uma xícara de chá, não em Londres, mas em Colombo, no bar de um qualquer hotel de turismo”.</span><br />
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<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Os estudantes suspenderam a fala e pediram tempo para preparar a apresentação do esboço da pesquisa a ser aplicada na comunidade. Aproveitei a pausa para ir com Claude e Tissa até a praia, ver de perto um barco que voltava da pesca. Um garoto de seus 10 anos, que estivera observando o movimento, nos fez sinal para ir até sua casa. Sua casa… uma choupana de nada, de nove metros quadrados, parede de taipa, nenhuma janela, piso de areia. E a mãe do menino? Não, ainda hoje, tantos anos passados, não dá para esquecer o olhar e a ternura com que envolveu o menino, seu filho mais velho. Nem o orgulho com que sorriu enquanto lhe alisava o cabelo. O olhar e o sorriso era tudo que guardava intato. O mais era um corpo moído, uma voz sumida, uma idade incerta. Falou que tinha 27 anos. Tivesse 23 ou 32 anos, que diferença faria? Tissa traduziu a informação de que o casal tinha cinco filhos. Que durante o dia, as crianças brincavam à sombra dos coqueiros, enquanto o pai se dividia entre a pesca no mar e a colheita de coco. Mas não foi preciso traduzir uma verdade que intuí na estrutura íntima da mulher. Uma verdade que expressava com os olhos e que emergia sob a forma de inaudível interrogação. Ela que se ocupava de tudo, parecia perguntar-se como resguardar, no espaço e no tempo, relações razoáveis entre aspectos urgentes da vida cotidiana. Como podiam coabitar, na cabana, ela, o marido, os filhos? Como abrigar-se da chuva nas horas de chuva? Como dormir? Como amar? Como velar o morto no dia em que houver um morto? Quem responderia aos estudantes se a pesquisa comportasse meio eficaz para registrar seu sentimento e sua palavra? Talvez dissesse, vocês são generosos, sua inquietação é válida, mas não suficiente para expressar o óbvio. Mas vamos adiante. Vocês concordariam que eu (e apontou o próprio rosto), que ele (e apontou o mar, estava o marido), que eles (e apontou os filhos) participemos realmente da busca de vocês? Espero que o remédio que encontrarmos juntos seja bom para vocês e bom para nós também. Fui interrompido em minha elucubração; voltei à tona. Era a voz da mulher dirigindo-se a Tissa e o seu gesto apontando o mar. Olhei o mar e vi, na praia, o barco que aportara e os dois pescadores que dele saíam. O sol poente deitava-se nas águas do oceano índico. Restos de raios atravessavam horizontalmente o coqueiral. Os dois homens pareciam desiludidos: a pesca, pelo jeito, não andara boa. O pôr-do-sol comunicava à paisagem uma beleza visceralmente triste.</span><br />
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<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nada mais havia a fazer. Era preciso voltar aos estudantes.</span></div>José Rosa Abreu Valehttp://www.blogger.com/profile/03360477590675251667noreply@blogger.com0